Frases e palavras de impacto de Mario Quintana!

Tão bom morrer de amor! E continuar vivendo...

Por Mario Quintana

O poema é uma bola de cristal. Se apenas enxergares nele o teu nariz, não culpes o mágico.

Por Mario Quintana

Hoje me acordei pensando em uma pedra numa rua de Calcutá. Numa determinada pedra numa rua de Calcutá. Solta. Sozinha. Quem repara nela? Só eu, que nunca fui lá. Só eu, deste lado do mundo, te mando agora esse pensamento... Minha pedra de Calcutá!

Por Mario Quintana

Edificante Poema Escrito em Portuñol Don Ramón se tomo um pifón: bebia demasiado, don Ramón! Y al volver cambaleante a su casa, avistó em el camino: um árbol y um toro... Pero como veia duplo, don Ramón vio um árbol que era y um árbol que no era, um toro que era y um toro que no era. Y don Ramón se subió al árbol que no era: Y lo atropelo el toro que era. Triste fim de don Ramón!

Por Mario Quintana

Linha Reta Linha sem imaginação.

Por Mario Quintana

DA OBSERVAÇÃO Não te irrites, por mais que te fizerem Estuda, a frio, o coração alheio. Farás, assim, do mal que eles te querem, Teu mais amável e sutil recreio.

Por Mario Quintana

Hoje encontrei dentro de um livro uma velha carta amarelecida, Rasguei-a sem procurar ao menos saber de quem seria... Eu tenho um medo Horrível A essas marés montantes do passado, Com suas quilhas afundadas, com Meus sucessivos cadáveres amarrados aos mastros e gáveas... Ai de mim, Ai de ti, ó velho mar profundo, Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios!

Por Mario Quintana

Uma alegria para sempre As coisas que não conseguem ser olvidadas continuam acontecendo. Sentimo-las como da primeira vez, sentimo-las fora do tempo, nesse mundo do sempre onde as datas não datam. Só no mundo do nunca existem lápides... Que importa se – depois de tudo – tenha "ela" partido, casado, mudado, sumido, esquecido, enganado, ou que quer que te haja feito, em suma? Tiveste uma parte da sua vida que foi só tua e, esta, ela jamais a poderá passar de ti para ninguém. Há bens inalienáveis, há certos momentos que, ao contrário do que pensas, fazem parte da tua vida presente e não do teu passado. E abrem-se no teu sorriso mesmo quando, deslembrado deles, estiveres sorrindo a outras coisas. Ah, nem queiras saber o quanto deves à ingrata criatura... A thing of beauty is a joy for ever disse, há cento e muitos anos, um poeta inglês que não conseguiu morrer.

Por Mario Quintana

Confesso que até hoje só conheci dois sinônimos perfeitos: "nunca" e "sempre".

Por Mario Quintana

O aborto não é, como dizem, um assassinato. É um roubo. Nem pode haver roubo maior. Porque, ao malogrado nascituro, rouba-se-lhe este mundo, o céu, as estrelas, o universo, tudo! O aborto é o roubo infinito.

Por Mario Quintana

Poeminha Sentimental O meu amor, o meu amor, Maria É como um fio telegráfico da estrada Aonde vêm pousar as andorinhas De vez em quando chega uma E canta (Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!) Canta e vai-se embora Outra, nem isso, Mal chega, vai-se embora. A última que passou Limitou-se a fazer cocô No meu pobre fio de vida! No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo: As andorinhas é que mudam.

Por Mario Quintana

A esperança é um urubu pintado de verde.

Por Mario Quintana

Minha vida não foi um romance... Nunca tive até hoje um segredo. Se me amar, não digas, que morro De surpresa... de encanto... de medo... Minha vida não foi um romance Minha vida passou por passar Se não amas, não finjas, que vivo Esperando um amor para amar. Minha vida não foi um romance... Pobre vida... passou sem enredo... Glória a ti que me enches de vida De surpresa, de encanto, de medo! Minha vida não foi um romance... Ai de mim... Já se ia acabar! Pobre vida que toda depende De um sorriso... de um gesto... um olhar...

Por Mario Quintana

DA MEDIOCRIDADE Nossa alma incapaz e pequenina Mais complacências que irrisão merece. Se ninguém é tão bom quanto imagina, Também não é tão mau como parece.

Por Mario Quintana

DA ETERNA PROCURA Só o desejo inquieto, que não passa, Faz o encanto da coisa desejada... E terminamos desdenhando a caça Pela doida aventura da caçada.

Por Mario Quintana

Mas o que quer dizer este poema? - perguntou-me alarmada a boa senhora. E o que quer dizer uma nuvem? - respondi triunfante. Uma nuvem - disse ela - umas vezes quer dizer chuva, outras vezes bom tempo...

Por Mario Quintana

Esquece todos os poemas que fizeste. Que cada poema seja o número um.

Por Mario Quintana

DA FELICIDADE Quantas vezes a gente, em busca da ventura, Procede tal e qual o avozinho infeliz: Em vão, por toda parte, os óculos procura Tendo-os na ponta do nariz!

Por Mario Quintana

Essa lembrança que nos vem às vezes... folha súbita que tomba abrindo na memória a flor silenciosa de mil e uma pétalas concêntricas... Essa lembrança... mas de onde? de quem? Essa lembrança talvez nem seja nossa, mas de alguém que, pensando em nós, só possa mandar um eco do seu pensamento nessa mensagem pelos céus perdida... Ai! Tão perdida que nem se possa saber mais de quem!

Por Mario Quintana

E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade, eu nem olhava o relógio seguia sempre em frente... e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

Por Mario Quintana

Minha vida não foi um romance. Nunca tive até hoje um segredo. Se me amas, não digas, que morro De surpresa, De encanto, De medo...

Por Mario Quintana

Do sabor das coisas Por mais raro que seja, Ou mais antigo, Só um vinho é deveras excelente: Aquele que tu bebes calmamente Com o teu mais velho E silencioso amigo...

Por Mario Quintana

O silêncio é um espião.

Por Mario Quintana

Presença É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas, teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento das horas ponha um frêmito em teus cabelos... É preciso que a tua ausência trescale sutilmente, no ar, trevo machucado, folhas de alecrim desde há muito guardadas não se sabe por quem nalgum móvel antigo. Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela e respirar-te, azul e luminosa, no ar. É preciso a saudade para eu te sentir como sinto – em mim – a presença misteriosa da vida... Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista que nunca te pareces com o teu retrato... E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te!

Por Mario Quintana

Ao Pé da Letra Enforcar-se é levar muito a sério o nó na garganta.

Por Mario Quintana

Seiscentos e sessenta e seis A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são 6 horas: há tempo... Quando se vê, já é 6ª feira... Quando se vê, passaram 60 anos! Agora, é tarde demais para ser reprovado... E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade, eu nem olhava o relógio seguia sempre em frente... e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

Por Mario Quintana

Mãe Mãe... São três letras apenas As desse nome bendito; Também o céu tem três letras E nelas cabe o infinito. Para louvar nossa mãe, Todo o bem que se disser Nunca há de ser tão grande Como o bem que ela nos quer. Palavra tão pequenina, Bem sabem os lábios meus Que és do tamanho do céu E apenas menor que Deus!

Por Mario Quintana

Amar, nunca me coube Mas sempre transbordou O rio de lembranças Que um dia me afogou E nesta correnteza Fiquei a navegar Embora, com certeza, Não possa me salvar Amar nunca me trouxe Completo esquecimento Mas antes me somou Ao antigo tormento E assim, cada vez mais, Me prendo neste nó E cada grito meu Parece ser maior

Por Mario Quintana

"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer.

Por Mario Quintana

Minha vida é uma colcha de retalhos. Todos da mesma cor.

Por Mario Quintana

Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade. Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu... Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros? Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Érico Veríssimo - que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras.

Por Mario Quintana

O grande consolo das velhas anedotas são os recém-nascidos...

Por Mario Quintana

Ela Mas que haverá com a Lua, que sempre que a gente a olha, é com um novo espanto?

Por Mario Quintana

Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer.

Por Mario Quintana

Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.

Por Mario Quintana

A amizade é um amor que nunca morre.

Por Mario Quintana

Democracia? É dar, a todos, o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, isso depende de cada um.

Por Mario Quintana

Da perfeição da vida Por que prender a vida em conceitos e normas? O belo e o feio... O bom e o mau... Dor e prazer... Tudo, afinal, são formas E não degraus do ser!

Por Mario Quintana

Quando eu for, um dia desses, Poeira ou folha levada No vento da madrugada, Serei um pouco do nada Invisível, delicioso Que faz com que o teu ar Pareça mais um olhar, Suave mistério amoroso, Cidade de meu andar (Deste já tão longo andar!) E talvez de meu repouso...

Por Mario Quintana

Nos acontecimentos, sim, é que há destino: Nos homens, não - espuma de um segundo... Se Colombo morresse em pequenino, O Neves descobriria o Novo Mundo.

Por Mario Quintana

A indiferença é a maneira mais polida de desprezar alguém.

Por Mario Quintana

A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe.

Por Mario Quintana

De um autor inglês do saudoso século XIX: O verdadeiro gentleman compra sempre três exemplares de cada livro: um para ler, outro para guardar na estante e o último para dar de presente.

Por Mario Quintana

Há uns que morrem antes; outros depois. O que há de mais raro, em tal assunto, é o defunto certo na hora exata.

Por Mario Quintana

PEQUENO ESCLARECIMENTO Os poetas não são azuis nem nada, como pensam alguns supersticiosos, nem sujeitos a ataques súbitos de levitação. O de que eles mais gostam é estar em silêncio - um silêncio que subjaz a quaisquer escapes motorísticos e declamatórios. Um silêncio..., este impoluível silêncio em que escrevo e em que tu me lês.

Por Mario Quintana

Da amizade entre mulheres Dizem-se amigas... Beijam-se... Mas qual! Haverá quem nisso creia? Salvo se uma das duas, por sinal, For muito velha, ou muito feia...

Por Mario Quintana

No céu é sempre domingo. E a gente não tem outra coisa a fazer senão ouvir os chatos. E lá é ainda pior que aqui, pois se trata dos chatos de todas as épocas do mundo.

Por Mario Quintana

A indulgência é a maneira mais polida de desprezar alguém.

Por Mario Quintana

Cada noite que Deus dá meu amor, que esta no céu despetala uma estrelinha para ver se ainda o quero.

Por Mario Quintana

Ah! Essas Precauções... Para desespero de seus parentes, o velho rei Mitridates, como todo mundo sabe, conseguiu tornar-se imune a todos os venenos... até que um bom tijolaço na cabeça liquidou o assunto.

Por Mario Quintana

A Coisa A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita.

Por Mario Quintana

Passageiro Clandestino No porta-mala do meu automóvel Levo um anjo escondido... Quando chegamos a um descampado, Ele sai lá de dentro, estende as asas, belas como a vitória E aí, então, nos seus ombros, dou uma longa volta pelos céus da cidade...

Por Mario Quintana

Dorme, ruazinha... É tudo escuro... E os meus passos, quem é que pode ouvi-los? Dorme o teu sono sossegado e puro, Com teus lampiões, com teus jardins tranquilos. Dorme... Não há ladrões, eu te asseguro... Nem guardas para acaso persegui-los... Na noite alta, como sobre um muro, As estrelinhas cantam como grilos... O vento está dormindo na calçada, O vento enovelou-se como um cão... Dorme, ruazinha... Não há nada... Só os meus passos... Mas tão leves são Que até parecem, pela madrugada, Os da minha futura assombração...

Por Mario Quintana

Do Estilo O estilo é uma dificuldade de expressão.

Por Mario Quintana

Do Mau Estilo... Todo o bem, todo o mal que eles te dizem, nada Seria, se soubessem expressá-lo... O ataque de uma borboleta agrada Mais que todos os beijos de um cavalo.

Por Mario Quintana

DO AMOROSO ESQUECIMENTO Eu, agora - que desfecho! Já nem penso mais em ti... Mas será que nunca deixo De lembrar que te esqueci?

Por Mario Quintana

A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda.

Por Mario Quintana

Das Utopias Não desças os degraus do sonho Para não despertar os monstros. Não subas aos sótãos - onde Os deuses, por trás das suas máscaras, Ocultam o próprio enigma. Não desças, não subas, fica. O mistério está é na tua vida! E é um sonho louco este nosso mundo... Se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para não querê-las... Que tristes os caminhos, se não fora A mágica presença das estrelas! Tão bom viver dia a dia... A vida assim, jamais cansa... Viver tão só de momentos Como estas nuvens no céu... E só ganhar, toda a vida, Inexperiência... esperança... E a rosa louca dos ventos Presa à copa do chapéu. Nunca dês um nome a um rio: Sempre é outro rio a passar. Nada jamais continua, Tudo vai recomeçar! E sem nenhuma lembrança Das outras vezes perdidas, Atiro a rosa do sonho Nas tuas mãos distraídas...

Por Mario Quintana

Eu quero o mapa das nuvens e um barco bem vagaroso.

Por Mario Quintana

Despertador é bom para a gente se virar para o outro lado e dormir de novo.

Por Mario Quintana

Só a poesia possui as coisas vivas. O resto é necropsia.

Por Mario Quintana

PROJETO DE PREFÁCIO Sábias agudezas... refinamentos... - não! Nada disso encontrarás aqui. Um poema não é para te distraíres como com essas imagens mutantes de caleidoscópios. Um poema não é quando te deténs para apreciar um detalhe Um poema não é também quando paras no fim, porque um verdadeiro poema continua sempre... Um poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te para a morte não tem sentido: é um pobre chocalho de palavras.

Por Mario Quintana

Às vezes tudo se ilumina de uma intensa irrealidade E é como se agora este pobre, este único, este efêmero instante do mundo Estivesse pintado numa tela, Sempre...

Por Mario Quintana

O Berço e o Terremoto Os versos, em geral, são versos de embalar, como eu às vezes os tenho feito, não sei se por simples complacência... ou pura piedade. Contudo, os verdadeiros versos não são para embalar - mas para abalar. Mesmo a mais simples canção, quando a canta um Camela Lorca, desperta-te a alma para um mundo de espanto.

Por Mario Quintana

SEMPRE QUE CHOVE Sempre que chove Tudo faz tanto tempo... E qualquer poema que acaso eu escreva Vem sempre datado de 1779!

Por Mario Quintana

Canção do dia de sempre Tão bom viver dia a dia... A vida, assim, jamais cansa... Viver tão só de momentos Como essas nuvens no céu... E só ganhar, toda a vida, Inexperiência... esperança... E a rosa louca dos ventos Presa à copa do chapéu. Nunca dês um nome a um rio: Sempre é outro rio a passar. Nada jamais continua, Tudo vai recomeçar! E sem nenhuma lembrança Das outras vezes perdidas, Atiro a rosa do sonho Nas tuas mãos distraídas...

Por Mario Quintana

O despertador é um acidente de tráfego do sono.

Por Mario Quintana

Não faças da tua vida um rascunho. Poderás não ter tempo de passá-la a limpo.

Por Mario Quintana

O MATA-BORRÃO O mata-borrão absorve tudo e no fim da vida acaba confundindo as coisas por que passou... O mata borrão parece gente!

Por Mario Quintana

O café é tão grave, tão exclusivista, tão definitivo que não admite acompanhamento sólido. Mas eu o driblo, saboreando, junto com ele, o cheiro das torradas-na-manteiga que alguém pediu na mesa próxima.

Por Mario Quintana

Nada jamais continua, Tudo vai recomeçar! E sem nenhuma lembrança Das outras vezes perdidas Atiro a rosa do sonho nas tuas mãos distraídas.

Por Mario Quintana

A eternidade é um relógio sem ponteiros.

Por Mario Quintana

[As falsas Recordações] Se a gente pudesse escolher a infância que teria vivido, com enternecimento eu não recordaria agora aquele velho tio de perna de pau, que nunca existiu na familia, e aquele arroio que nunca passou aos fundos do quintal, e onde íamos pescar e sestear nas tardes de verão, sob o zumbido inquietante dos besouros...

Por Mario Quintana

Amar é mudar a alma de casa.

Por Mario Quintana

As mãos que dizem adeus são pássaros que vão morrendo lentamente.

Por Mario Quintana

DA DISCRETA ALEGRIA Longe do mundo vão, goza o feliz minuto Que arrebataste às horas distraídas. Maior prazer não é roubar um fruto Mas sim ir saboreá-lo às escondidas.

Por Mario Quintana

DOS MILAGRES O milagre não é dar vida ao corpo extinto, Ou luz ao cego, ou eloquência ao mudo... Nem mudar água pura em vinho tinto... Milagre é acreditarem nisso tudo!

Por Mario Quintana

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não conseguiu levar: um estribilho antigo um carinho no momento preciso o folhear de um livro de poemas o cheiro que tinha um dia o próprio vento...

Por Mario Quintana

Boas Maneiras Os anjos não dão os ombros, não; quando querem mostrar indiferença os anjos dão as asas.

Por Mario Quintana

Nunca Nunca ninguém sabe se estou louco para rir ou para chorar… Por isso o meu verso tem essa quase imperceptível tremor... A vida é triste, o mundo é louco! Nem vale a pena matar-se por isso. Nem por ninguém. Por nenhum amor… A vida continua, indiferente!

Por Mario Quintana

Vale a pena viver - nem que seja para dizer que não vale a pena.

Por Mario Quintana

Fere de leve a frase... E esquece... Nada Convém que se repita... Só em linguagem amorosa agrada A mesma coisa cem mil vezes dita.

Por Mario Quintana

Já trazes, ao nascer, a tua filosofia. As razões? Essas vêm posteriormente, Tal como escolhes, na chapelaria, A forma que mais te assente...

Por Mario Quintana

Cada pessoa pensa como pode...

Por Mario Quintana

A arte de viver é simplesmente a arte de conviver... simplesmente, disse eu? Mas como é difícil!

Por Mario Quintana

Poeminho do Contra Todos esses que aí estão Atravancando meu caminho, Eles passarão... Eu passarinho!

Por Mario Quintana

Olho em redor do bar em que escrevo estas linhas. Aquele homem ali no balcão, caninha após caninha, nem desconfia que se acha conosco desde o início das eras. Pensa que está somente afogando problemas dele, João Silva... Ele está é bebendo a milenar inquietação do mundo!

Por Mario Quintana

DOS MUNDOS Deus criou este mundo. O homem, todavia, Entrou a desconfiar, cogitabundo... Decerto não gostou lá muito do que via... E foi logo inventando o outro mundo.

Por Mario Quintana

A modéstia é a vaidade escondida atrás da porta.

Por Mario Quintana

Só as crianças e os velhos conhecem a volúpia de viver dia-a-dia, hora a hora, e suas esperas e desejos nunca se estendem além de cinco minutos...

Por Mario Quintana

EU QUERIA TRAZER-TE UNS VERSOS MUITO LINDOS Eu queria trazer-te uns versos muito lindos colhidos no mais íntimo de mim... Suas palavras seriam as mais simples do mundo, porém não sei que luz as iluminaria que terias de fechar teus olhos para as ouvir... Sim! Uma luz que viria de dentro delas, como essa que acende inesperadas cores nas lanternas chinesas de papel! Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento da Poesia... como uma pobre lanterna que incendiou!

Por Mario Quintana

A DIFERENÇA A diferença entre um poeta e um louco é que o poeta sabe que é louco... Porque a poesia é uma loucura lúcida.

Por Mario Quintana

Quem ama inventa as coisas a que ama... Talvez chegaste quando eu te sonhava. Então de súbito acendeu-se a chama! Era a brasa dormida que acordava.

Por Mario Quintana

Amizade Quando o silêncio a dois não se torna incômodo.

Por Mario Quintana

O Poema O poema essa estranha máscara mais verdadeira do que a própria face...

Por Mario Quintana

Seiscentos e sessenta e seis A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são 6 horas: há tempo... Quando se vê, já é 6ª feira... Quando se vê, passaram 60 anos! Agora, é tarde demais para ser reprovado... E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade, eu nem olhava o relógio seguia sempre em frente... e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

Por Mario Quintana

Ela era branca, branca. Dessa brancura que não se usa mais. Mas sua alma era furta-cor.

Por Mario Quintana

A poesia não se entrega a quem a define.

Por Mario Quintana

Só se deve beber por gosto: beber por desgosto é uma cretinice.

Por Mario Quintana

Mau Humor Os que metem uma bala na cabeça retiram-se deste mundo batendo com a porta.

Por Mario Quintana

OS DEGRAUS Não desças os degraus do sonho Para não despertar os monstros. Não subas aos sótãos - onde Os deuses, por trás das suas máscaras, Ocultam o próprio enigma. Não desças, não subas, fica. O mistério está é na tua vida! E é um sonho louco este nosso mundo...

Por Mario Quintana

Nós vivemos a temer o futuro, mas é o passado que nos atropela e mata.

Por Mario Quintana

O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso.

Por Mario Quintana

O Auto Retrato No retrato que me faço - traço a traço - às vezes me pinto nuvem, às vezes me pinto árvore... às vezes me pinto coisas de que nem há mais lembrança... ou coisas que não existem mas que um dia existirão... e, desta lida, em que busco - pouco a pouco - minha eterna semelhança, no final, que restará? Um desenho de criança... Terminado por um louco!

Por Mario Quintana

Qualquer ideia que te agrade, Por isso mesmo... é tua. O autor nada mais fez que vestir a verdade Que dentro em ti se achava inteiramente nua...

Por Mario Quintana

Ah, esses moralistas... Não há nada que empeste mais do que um desinfetante!

Por Mario Quintana

DO AMOROSO ESQUECIMENTO Eu, agora - que desfecho! Já nem penso mais em ti... Mas será que nunca deixo De lembrar que te esqueci?

Por Mario Quintana

[Leituras] - Você ainda não leu O Significado do Significado? Não? Assim você nunca fica em dia. - Mas eu estou só esperando que apareça O Significado do Significado do Significado.

Por Mario Quintana

Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam vôo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto; alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti...

Por Mario Quintana

Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. só por não poderem ser chatos como os outros? Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese.

Por Mario Quintana

DA ANÁLISE Eis um problema! E cada sábio nele aplica As suas lentes abismais. Mas quem com isso ganha é o problema, que fica Sempre com um X a mais...

Por Mario Quintana

Primavera cruza o rio Cruza o sonho que tu sonhas A Primavera vem chegando.

Por Mario Quintana

Esses que puxam conversa sobre se chove ou não chove - não poderão ir para o Céu! Lá faz sempre bom tempo...

Por Mario Quintana

O POETA Venho do fundo das Eras Quando o mundo mal nascia... Sou tão antigo e tão novo Como a luz de cada dia!

Por Mario Quintana

Sinônimos Esses que pensam que existem sinônimos, desconfio que não sabem distinguir as diferentes nuanças de uma cor.

Por Mario Quintana

Só as crianças e os bem velhinhos conhecem a volúpia de viver dia a dia, hora a hora, e suas esperanças são breves.

Por Mario Quintana

Eu estava dormindo e me acordaram E me encontrei, assim, num mundo estranho e louco... E quando eu começava a compreendê-lo Um pouco, Já eram horas de dormir de novo!

Por Mario Quintana

E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas.

Por Mario Quintana

Era uma vez duas pulguinhas que passaram a vida inteira economizando e compraram um cachorro só pra elas...

Por Mario Quintana

Com o tempo, não vamos ficando sozinhos apenas pelos que se foram: vamos ficando sozinhos uns dos outros.

Por Mario Quintana

DA OBSERVAÇÃO Não te irrites, por mais que te fizerem Estuda, a frio, o coração alheio. Farás, assim, do mal que eles te querem, Teu mais amável e sutil recreio.

Por Mario Quintana

Trova Coração que bate-bate... Antes deixes de bater! Só num relógio é que as horas Vão passando sem sofrer.

Por Mario Quintana

[A Carta] Quando completei quinze anos, meu compenetrado padrinho me escreveu uma carta muito, muito séria: tinha até ponto-e-vírgula! Nunca fiquei tão impressionado na minha vida.

Por Mario Quintana

A morte é a libertação total: a morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos...

Por Mario Quintana

Pergunta errada Se eu acredito em Deus? Mas que valor poderia ter minha resposta, afirmativa ou não? O que importa é saber se Deus acredita em mim.

Por Mario Quintana

Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem.

Por Mario Quintana

O assunto E nunca me perguntes o assunto de um poema: um poema sempre fala de outra coisa.

Por Mario Quintana

O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria.

Por Mario Quintana

Biografia Era um grande nome - ora que dúvida! Uma verdadeira glória. Um dia adoeceu, morreu, virou rua... E continuaram a pisar em cima dele.

Por Mario Quintana

DA BOA E DA MÁ FORTUNA É sem razão, e é sem merecimento, Que a gente a sorte maldiz: Quanto a mim, sempre odiei o sofrimento, Mas nunca soube ser feliz...

Por Mario Quintana

Tempo Coisa que acaba de deixar a querida leitora um pouco mais velha ao chegar ao fim desta linha.

Por Mario Quintana

"Diabético" é quem não consegue ser doce.

Por Mario Quintana

O Mapa Olho o mapa da cidade Como quem examinasse A anatomia de um corpo... (E nem que fosse o meu corpo!) Sinto uma dor infinita Das ruas de Porto Alegre Onde jamais passarei... Há tanta esquina esquisita, Tanta nuança de paredes, Há tanta moça bonita Nas ruas que não andei (E há uma rua encantada Que nem em sonhos sonhei...) Quando eu for, um dia desses, Poeira ou folha levada No vento da madrugada, Serei um pouco do nada Invisível, delicioso Que faz com que o teu ar Pareça mais um olhar, Suave mistério amoroso, Cidade de meu andar (Deste já tão longo andar!) E talvez de meu repouso...

Por Mario Quintana

A saudade é o que faz as coisas pararem no tempo.

Por Mario Quintana

Poema Transitório (...) é preciso partir é preciso chegar é preciso partir é preciso chegar... Ah, como esta vida é urgente! ... no entanto eu gostava mesmo era de partir... e - até hoje - quando acaso embarco para alguma parte acomodo-me no meu lugar fecho os olhos e sonho: viajar, viajar mas para parte nenhuma... viajar indefinidamente... como uma nave espacial perdida entre as estrelas.

Por Mario Quintana

Mas, afinal, para que interpretar um poema? Um poema já é uma interpretação.

Por Mario Quintana

A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa, Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo. Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali... Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!

Por Mario Quintana

Não me ajeito com os padres, os críticos e os canudinhos de refresco: não há nada que substitua o sabor da comunicação direta.

Por Mario Quintana

Neste mundo de tantos espantos, Cheios das mágicas de Deus, O que existe de mais sobrenatural, São os ateus.

Por Mario Quintana

Bilhete Se tu me amas, ama-me baixinho Não o grites de cima dos telhados Deixa em paz os passarinhos Deixa em paz a mim! Se me queres, enfim, tem de ser bem devagarinho, Amada, que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

Por Mario Quintana

Quem pretende apenas a glória não a merece.

Por Mario Quintana

O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente...

Por Mario Quintana

Tenta Esquecer-me Tenta esquecer-me... Ser lembrado é como evocar Um fantasma... Deixa-me ser o que sou, O que sempre fui, um rio que vai fluindo... Em vão, em minhas margens cantarão as horas, Me recamarei de estrelas como um manto real, Me bordarei de nuvens e de asas, Às vezes virão a mim as crianças banhar-se... Um espelho não guarda as coisas refletidas! E o meu destino é seguir... é seguir para o Mar, As imagens perdendo no caminho... Deixa-me fluir, passar, cantar... Toda a tristeza dos rios É não poder parar!

Por Mario Quintana

A saudade é o que faz as coisas pararem no tempo.

Por Mario Quintana

O cotidiano é o icógnito do mistério.

Por Mario Quintana

O verdadeiro analfabeto é aquele que sabe ler, mas não lê.

Por Mario Quintana

Uma vida não basta apenas ser vivida: também precisa ser sonhada.

Por Mario Quintana

DAS UTOPIAS Se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para não querê-las... Que tristes os caminhos, se não fora A presença distante das estrelas!

Por Mario Quintana

RECORDO AINDA Recordo ainda... e nada mais me importa... Aqueles dias de uma luz tão mansa Que me deixavam, sempre, de lembrança, Algum brinquedo novo à minha porta... Mas veio um vento de Desesperança Soprando cinzas pela noite morta! E eu pendurei na galharia torta Todos os meus brinquedos de criança... Estrada afora após segui... Mas, aí, Embora idade e senso eu aparente Não vos iludais o velho que aqui vai: Eu quero os meus brinquedos novamente! Sou um pobre menino... acreditai!... Que envelheceu, um dia, de repente!...

Por Mario Quintana

A maior dor do vento é não ser colorido.

Por Mario Quintana

Por que será que a gente vive chorando os amigos mortos e não aguenta os que continuam vivos?

Por Mario Quintana

Amor Quando duas pessoas fazem amor Não estão apenas fazendo amor Estão dando corda ao relógio do mundo

Por Mario Quintana

Eu quero é teu calor animal Mas onde já se ouviu falar num amor à distância? Num tele amor? Num amor de longe. Eu sonho é um amor pertinho. E depois esse calor humano é uma coisa que todos - até os executivos têm. É algo que acaba se perdendo no ar No vento No frio que agora faz. Escuta! O que eu quero O que eu amo O que eu desejo em ti É teu calor animal.

Por Mario Quintana

LEGÍTIMA APROPRIAÇÃO Copio e assino essa frase encontrada no velho Schopenhauer: "A soma de barulho que uma pessoa pode suportar está na razão inversa de sua capacidade mental".

Por Mario Quintana

A saudade que dói mais fundo – e irremediavelmente – é a saudade que temos de nós.

Por Mario Quintana

Alma errada Há coisas que a minha alma, já mortificada não admite: assistir novelas de TV ouvir música Pop um filme apenas de corridas de automóvel uma corrida de automóvel num filme um livro de páginas ligadas porque, sendo bom, a gente abre sofregamente a dedo: espátulas não há… e quem é que hoje faz questão de virgindades… E quando minha alma estraçalhada a todo instante pelos telefones fugir desesperada me deixará aqui, ouvindo o que todos ouvem, bebendo o que todos bebem, comendo o que todos comem. A estes, a falta de alma não incomoda. (Desconfio até que minha pobre alma fora destinada ao habitante de outro mundo). E ligarei o rádio a todo o volume, gritarei como um possesso nas partidas de futebol, seguirei, irresistivelmente, o desfilar das grandes paradas do Exército. E apenas sentirei, uma vez que outra, a vaga nostalgia de não sei que mundo perdido…

Por Mario Quintana

E um dia os homens descobrirão que esses discos voadores estavam apenas estudando a vida dos insetos...

Por Mario Quintana

Quando abro a cada manhã a janela do meu quarto É como se abrisse o mesmo livro Numa página nova...

Por Mario Quintana

Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta?

Por Mario Quintana

Há 2 espécies de chatos: os chatos propriamente ditos e os amigos, que são os nossos chatos prediletos.

Por Mario Quintana

CONFISSÃO Que esta minha paz e este meu amado silêncio Não iludam a ninguém Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios Acho-me relativamente feliz Porque nada de exterior me acontece... Mas, Em mim, na minha alma, Pressinto que vou ter um terremoto!

Por Mario Quintana

[O Tamanho Do Espaço] A medida do espaço somo nós, homens, Baterias de cozinha e jazz-band, Estrelas, pássaros, satélites perdidos, Aquele cabide no recinto do meu quarto, Com toda a minha preguiça dependurada nele... O espaço, que seria dele sem nós? Mas o que enche, mesmo, toda a sua infinitude É o poema! - por mais leve, mais breve, por mínimo que seja...

Por Mario Quintana

O mais triste da arquitetura moderna é a resistência do seu material.

Por Mario Quintana

Dizes que a beleza não é nada? Imagina um hipopótamo com alma de anjo... Sim, ele poderá convencer alguém da sua angelitude – mas que trabalheira!

Por Mario Quintana

Não tenho vergonha de dizer que estou triste, Não dessa tristeza ignominiosa dos que, em vez de se matarem, fazem poemas: Estou triste por que vocês são burros e feios E não morrem nunca...

Por Mario Quintana

Verso Avulso O luar é a luz do sol que está dormindo...

Por Mario Quintana

Quem disse que eu me mudei? Não importa que a tenham demolido: A gente continua morando na velha casa em que nasceu.

Por Mario Quintana

DOS PONTOS DE VISTA A mosca, a debater-se: "Não! Deus não existe! Somente o Acaso rege a terrena existência." A Aranha: "Glória a Ti, Divina Providência, Que à minha humilde teia essa mosca atraíste!"

Por Mario Quintana

O melhor do susto é esperar por ele.

Por Mario Quintana

A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer.

Por Mario Quintana

Nunca me dê o Céu...Quero é sonhar com ele na inquietação feliz do Purgatório.

Por Mario Quintana

Tão bom viver dia-a-dia...A vida, assim, jamais cansa.

Por Mario Quintana

Sonhar é acordar-se para dentro.

Por Mario Quintana

Na mesma pedra se encontram, Conforme o povo traduz, Quando se nasce - uma estrela, Quando se morre - uma cruz. Mas quantos que aqui repousam Hão de emendar-nos assim: "Ponham-me a cruz no princípio... E a luz da estrela no fim!"

Por Mario Quintana

O tempo é um ponto de vista. Velho é quem é um dia mais velho que a gente...

Por Mario Quintana

Amigos não consultem os relógios quando um dia me for de vossas vidas... Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida - a verdadeira - em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira.

Por Mario Quintana

Qual Ioga, qual nada! A melhor ginástica respiratória que existe é a leitura, em voz alta, dos Lusíadas.

Por Mario Quintana

Sempre me senti isolado nessas reuniões sociais: o excesso de gente impede de ver as pessoas...

Por Mario Quintana

O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser nosso futuro.

Por Mario Quintana

DO ESPÍRITO E DO CORPO O espírito é variável como o vento, Mais coerente é o corpo, e mais discreto... Mudaste muita vez de pensamento, Mas nunca de teu vinho predileto...

Por Mario Quintana

Senhora, eu vos amo tanto Que até por vosso marido Me dá um certo quebranto.

Por Mario Quintana

A morte é que está morta Ela é aquela Princesa Adormecida no seu claro jazigo de cristal. Aquela a quem, um dia - enfim - despertarás... E o que esperavas ser teu suspiro final é o teu primeiro beijo nupcial! - Mas como é que eu te receava tanto (no teu encantamento lhe dirás) e como podes ser assim - tão bela?! Nas tantas buscas, em que me perdi, vejo que cada amor tinha um pouco de ti... E ela, sorrindo, compassiva e calma: - E tu, por que é que me chamavas Morte? Eu sou, apenas, tua Alma...

Por Mario Quintana

Linha Curva O caminho mais agradável entre dois pontos.

Por Mario Quintana

Da vez primeira em que me assassinaram, Perdi um jeito de sorrir que eu tinha. Depois, a cada vez que me mataram, Foram levando qualquer coisa minha. Hoje, dos meu cadáveres eu sou O mais desnudo, o que não tem mais nada. Arde um toco de Vela amarelada, Como único bem que me ficou. Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada! Pois dessa mão avaramente adunca Não haverão de arracar a luz sagrada! Aves da noite! Asas do horror! Voejai! Que a luz trêmula e triste como um ai, A luz de um morto não se apaga nunca!

Por Mario Quintana

Diálogo bobo – Abandonou-te? – Pior ainda: esqueceu-me...

Por Mario Quintana

O ruim dos filmes de Far West é que os tiroteios acordam a gente no melhor do sono.

Por Mario Quintana

[Inscrição para um portão de cemitério] A morte não melhora ninguém...

Por Mario Quintana

Do bem e do mal Todos tem seu encanto: os santos e os corruptos. Não há coisa na vida inteiramente má. Tu dizes que a verdade produz frutos... Já viste as flores que a mentira dá?

Por Mario Quintana

Morrer é simplesmente esquecer as palavras.

Por Mario Quintana

Para sempre é muito tempo. O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo.

Por Mario Quintana

Há 2 espécies de chatos: os chatos propriamente ditos e os amigos, que são os nossos chatos prediletos.

Por Mario Quintana

A noite acendeu as estrelas porque tinha medo da própria escuridão.

Por Mario Quintana

Os antigos retratos de parede Não conseguem ficar por longo tempo abstratos. Às vezes os seus olhos te fitam, obstinados. Porque eles nunca se desumanizam de todo. Jamais te voltes para trás de repente: Poderias pegá-los em flagrante. Não, não olhes nunca! O melhor é cantares cantigas loucas e sem fim... Sem fim e sem sentido... Dessas que a gente inventava para enganar a solidão dos caminhos sem lua.

Por Mario Quintana

URBANÍSTICA Como seriam belas as estátuas equestres se constassem apenas dos cavalos!

Por Mario Quintana

O amor é quando a gente mora um no outro.

Por Mario Quintana

Esta vida é uma estranha hospedaria, De onde se parte quase sempre às tontas, Pois nunca as nossas malas estão prontas, E a nossa conta nunca está em dia.

Por Mario Quintana

DOS NOSSOS MALES A nós bastem nossos próprios ais, Que a ninguém sua cruz é pequenina. Por pior que seja a situação da China, Os nossos calos doem muito mais...

Por Mario Quintana

O mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede: conheço um que já devorou três gerações da minha família.

Por Mario Quintana

O LUAR O luar, é a luz do Sol que está sonhando O tempo não para! A saudade é que faz as coisas pararem no tempo... ... os verdadeiros versos não são para embalar, mas para abalar... A grande tristeza dos rios é não poderem levar a tua imagem...

Por Mario Quintana

— Eu queria propor-lhe uma troca de ideias... — Deus me livre!

Por Mario Quintana

Tudo o que acontece é natural - inclusive o sobrenatural.

Por Mario Quintana

Vento Pastor das nuvens.

Por Mario Quintana

DA DISCRIÇÃO Não te abras com teu amigo Que ele um outro amigo tem. E o amigo do teu amigo Possui amigos também...

Por Mario Quintana

O velho do espelho Por acaso, surpreendo-me no espelho: quem é esse Que me olha e é tão mais velho do que eu? Porém, seu rosto...é cada vez menos estranho... Meu Deus, Meu Deus...Parece Meu velho pai - que já morreu! Como pude ficarmos assim? Nosso olhar - duro - interroga: "O que fizeste de mim?!" Eu, Pai?! Tu é que me invadiste, Lentamente, ruga a ruga...Que importa? Eu sou, ainda, Aquele mesmo menino teimoso de sempre E os teus planos enfim lá se foram por terra. Mas sei que vi, um dia - a longa, a inútil guerra!- Vi sorrir, nesses cansados olhos, um orgulho triste...

Por Mario Quintana

Dupla delícia O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.

Por Mario Quintana

No ano passado... Já repararam como é bom dizer "o ano passado"? É como quem já tivesse atravessado um rio, deixando tudo na outra margem...Tudo sim, tudo mesmo! Porque, embora nesse "tudo" se incluam algumas ilusões, a alma está leve, livre, numa extraodinária sensação de alívio, como só se poderiam sentir as almas desencarnadas. Mas no ano passado, como eu ia dizendo, ou mais precisamente, no último dia do ano passado deparei com um despacho da Associeted Press em que, depois de anunciado como se comemoraria nos diversos países da Europa a chegada do Ano Novo, informava-se o seguinte, que bem merece um parágrafo à parte: "Na Itália, quando soarem os sinos à meia-noite, todo mundo atirará pelas janelas as panelas velhas e os vasos rachados". Ótimo! O meu ímpeto, modesto mas sincero, foi atirar-me eu próprio pela janela, tendo apenas no bolso, à guisa de explicação para as autoridades, um recorte do referido despacho. Mas seria levar muito longe uma simples metáfora, aliás praticamente irrealizável, porque resido num andar térreo. E, por outro lado, metáforas a gente não faz para a Polícia, que só quer saber de coisas concretas. Metáforas são para aproveitar em versos... Atirei-me, pois, metaforicamente, pela janela do tricentésimo-sexagésimo-quinto andar do ano passado. Morri? Não. Ressuscitei. Que isto da passagem de um ano para outro é um corriqueiro fenômeno de morte e ressurreição - morte do ano velho e sua ressurreição como ano novo, morte da nossa vida velha para uma vida nova.

Por Mario Quintana

Bilhete Se tu me amas, ama-me baixinho Não o grites de cima dos telhados Deixa em paz os passarinhos Deixa em paz a mim! Se me queres, enfim, tem de ser bem devagarinho, Amada, que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

Por Mario Quintana

A saudade da amada criatura é bem melhor do que a presença dela.

Por Mario Quintana

Um dia você aprende que deve obedecer. Um dia você aprende que não pode ter tudo o que quer, que gente que tem orgulho próprio é chato e que se deve ser solidário. Que você não deve confiar em ninguém, que deve 'fazer o bem sem olhar a quem', que, se for menino, não chora e que, se for menina, deve-se preservar. Você vê que a vida é só uma e que deve aproveitá-la. Você aprende que deve-se pensar duas vezes antes de tomar qualquer atitude. Você aprende que deve aprender com seus erros e aprende que raramente aprende com seus erros. Você aprende a se contradizer, você aprende a mudar de idéia, você aprende a se calar, você aprende a aceitar. Aprende que deve lutar pelos seus ideais. Aprende que deve sonhar e que deve ter os pés no chão. Você percebe que quem imita os outros não tem personalidade e que quem é autêntico é esquisito e excluído. Você aprende que as pessoas podem ser muito cruéis. Que as pessoas podem dar tudo de si mesmas para ajudar. Você aprende que sentir ciúmes é ruim. Você aprende que quem não sente ciúmes é desleixado. Aprende que não deve se preocupar muito com as coisas. Aprende que não deve deixar a vida correr solta. Que o maior tesouro são os amigos e que você perde os amigos. E ao perder, ainda jogam na sua cara que não era uma amizade verdadeira. Que os outros te julgam e que você não deve julgar ninguém. Que deve-se olhar além das aparências. Que as pessoas te julgam pelo que você aparenta. Que dinheiro importa. Que amor acaba. Que amor verdadeiro não acaba. Que não existe amor verdadeiro. Que dinheiro não trás felicidade. Aprende que quanto mais você se esforça, mais insuficiente parece ser. E que não se deve desistir dos sonhos. Também, que se deve desistir de coisas que não se consegue depois de tentar muito. Aprende que a vida é curta. Aprende que você ainda tem a vida toda pela frente. Aprende que há burrices como preconceito e discriminação. Aprende que sente preconceito. Aprende que julga os outros e aprende que se deve aprender a tratar as pessoas igualmente. Aprende que as pessoas não são iguais. Aprende que as pessoas somos iguais. E que alguns são mais iguais que os outros. Aprende que não pode errar e que não se acerta sempre. Aprende que cantar faz bem. Aprende que pode-se ser altamente repreendido por cantar. Aprende que dançar é bom e que as pessoas podem te repreender por dançar. Aprende que as pessoas te magoam sem nem precisarem de um motivo. E que podem fazer comentários como se você não se importasse com aquilo. Aprende que quando a pessoa é fora dos padrões ela se sente ofendida quando lhe falam isso. Aprende que as pessoas são fora dos padrões e fingem não se importar. Que fazer piadas é legal e que é melhor fazê-las do que manter a amizade. E que quem não aceita as piadas são tolos. Que a sinceridade é utópica e desnecessária. Que sinceridade é tudo. Que confiança se perde fácil. Aprende que por mais que tente o contrário, um dia vai magoar alguém. Aprende que com conversas tudo se resolve. Aprende que tem gente que não sabe conversar e que nessas conversas, as palavras podem funcionar como armas. Aprende que de repente as palavras podem significar nada, algo muito importante ou várias coisas. Aprende que alguns momentos são inúteis... e que outros, que parecem ser tão simples, mudam tudo. No fim, você aprende que tudo o que você aprende chega a um belo resultado: aporia.

Por Mario Quintana

Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente... e não a gente a ele!

Por Mario Quintana

DA FELICIDADE Quantas vezes a gente, em busca da ventura, Procede tal e qual o avozinho infeliz: Em vão, por toda parte, os óculos procura Tendo-os na ponta do nariz!

Por Mario Quintana

Sonho Um poema que ao lê-lo, nem sentirias que ele já estivesse escrito, mas que fosse brotando, no mesmo instante, de teu próprio coração.

Por Mario Quintana

[Leitura] Se é proibido escrever nos monumentos, também deveria haver uma lei que proibisse escrever sobre Shakespeare e Camões.

Por Mario Quintana

Se um poeta consegue um dia expressar as suas dores com toda a felicidade como é que poderá ser infeliz?

Por Mario Quintana

Atirei-me, pois, metaforicamente, pela janela do tricentésimo-sexagésimo-quinto andar do ano passado. Morri? Não. Ressuscitei.

Por Mario Quintana

Quiseste expor teu coração a nu. E assim, ouvi-lhe todo o amor alheio. Ah, pobre amigo, nunca saibas tu Como é ridículo o amor... alheio!

Por Mario Quintana

Da calúnia Sorri com tranquilidade Quando alguém te calunia. Quem sabe o que não seria Se ele dissesse a verdade...

Por Mario Quintana

Não olhe para os lados Seja um poema, uma tela ou o que for, não procure ser diferente. O segredo único está em ser indiferente.

Por Mario Quintana

Esses padres conhecem mais pecados do que a gente...

Por Mario Quintana

Se eu fosse acreditar mesmo em tudo o que penso, ficaria louco.

Por Mario Quintana

INSCRIÇÃO PARA UMA LAREIRA A vida é um incêndio: nela dançamos, salamandras mágicas Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta? Em meio aos toros que desabam, cantemos a canção das chamas! Cantemos a canção da vida, na própria luz consumida...

Por Mario Quintana

Bilhete Se tu me amas, ama-me baixinho Não o grites de cima dos telhados Deixa em paz os passarinhos Deixa em paz a mim! Se me queres, enfim, tem de ser bem devagarinho, Amada, que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

Por Mario Quintana

Um poema como um gole d'água bebido no escuro. Como um pobre animal palpitando ferido. Como pequenina moeda de prata perdida para sempre na [floresta noturna. Um poema sem outra angústia que a sua misteriosa condição [de poema. Triste. Solitário. Único. Ferido de mortal beleza.

Por Mario Quintana

Nada jamais continua, Tudo vai recomeçar!

Por Mario Quintana

Sábios pensares Dos pequenos ridículos nunca faça escândalos ao menos visto que tanto ousas não os faça pequenos o ridículo está é nas pequenas coisas Do pranto não tentes consolar o desgraçado que chora amargamente a sorte má se o tirares por fim do seu estado que outra consolação o restará... Do prazer quanto mais leve tanto mais sutil o prazer que das coisas nos provém escusado é beber todo um barril para saber que gosto o vinho tem... Da contradição se te contradisseste e acusam-te. Sorri. pois nada houve em realidade teu pensamento é que chegou por si só no outro pólo da verdade Da falsidade foi tudo falso o que ela disse ... fecha os olhos, crê, a mentira é tão linda nem ela sabe que fingir meiguice é o mais certo sinal de que te ama ainda Do eterno mistério um outro mundo existe...uma outra vida... mas de que serve ires para lá... bem como aqui, tu'alma atônita e perdida nada compreenderá Do mau estilo todo o bem, todo mal que eles te dizem, nada seria, se soubessem expressá-lo o ataque de uma borbolete agrada mais que todos os beijos de um cavalo

Por Mario Quintana

Do bem e do mal No fundo, não há bons nem maus. Há apenas os que sentem prazer em fazer o bem e os que sentem prazer em fazer o mal. Tudo é volúpia...

Por Mario Quintana

Slogan para o ministério da saúde: o fumante é um retardado que ainda não conseguiu deixar de mamar.

Por Mario Quintana

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões, não falaria em Deus nem no Pecado — muito menos no Anjo Rebelado e os encantos das suas seduções, não citaria santos e profetas: nada das suas celestiais promessas ou das suas terríveis maldições... Se eu fosse um padre eu citaria os poetas, Rezaria seus versos, os mais belos, desses que desde a infância me embalaram e quem me dera que alguns fossem meus! Porque a poesia purifica a alma ...e um belo poema — ainda que de Deus se aparte — um belo poema sempre leva a Deus!

Por Mario Quintana

Melancolia: Maneira romântica de ficar triste.

Por Mario Quintana

Diálogo Noite Adentro - Mas há as que nos compreendem... - Ah, essas são as piores!

Por Mario Quintana

Eu escrevi um poema triste Eu escrevi um poema triste E belo, apenas da sua tristeza. Não vem de ti essa tristeza Mas das mudanças do Tempo, Que ora nos traz esperanças Ora nos dá incerteza... Nem importa, ao velho Tempo, Que sejas fiel ou infiel... Eu fico, junto à correnteza, Olhando as horas tão breves... E das cartas que me escreves Faço barcos de papel!

Por Mario Quintana

O poema Mas por que datar um poema? Os poetas que põem datas nos seus poemas me lembram essas galinhas que carimbam os ovos...

Por Mario Quintana

Autodidata é um ignorante por conta própria.

Por Mario Quintana

Pior, mas muito pior mesmo do que as lágrimas de crocodilo, são os sorrisos de crocodilo...

Por Mario Quintana

Escadas de caracol Sempre São misteriosas: conturbam... Quando as desce, a gente Se desparafusa... Quando a gente as sobe Se parafusa (...)

Por Mario Quintana

DA PAZ INTERIOR O sossego interior, se queres atingi-lo, Não deixes coisa alguma incompleta ou adiada. Não há nada que dê um sono mais tranquilo Que uma vingança bem executada...

Por Mario Quintana

O bom das segundas-feiras, do primeiro dia de cada mês, e do primeiro do ano, é que nos dão a ilusão que a vida se renova... Que seria de nós se a folhinha marcasse hoje o dia 713.789 da era Cristã?

Por Mario Quintana

Nada como o tempo.

Por Mario Quintana

Poema da Gare de Astapovo O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos E foi morrer na gare de Astapovo! Com certeza sentou-se a um velho banco, Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo Contra uma parede nua... Sentou-se ...e sorriu amargamente Pensando que Em toda a sua vida Apenas restava de seu a Glória, Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas Coloridas Nas mãos esclerosadas de um caduco! E então a Morte, Ao vê-lo tao sozinho àquela hora Na estação deserta, Julgou que ele estivesse ali à sua espera, Quando apenas sentara para descansar um pouco! A morte chegou na sua antiga locomotiva (Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...) Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho, E quem sabe se até não morreu feliz: ele fugiu... Ele fugiu de casa... Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade... Não são todos que realizam os velhos sonhos da infância!

Por Mario Quintana

Um dia...Pronto!...Me acabo. Pois seja o que tem de ser. Morrer: Que me importa? O diabo é deixar de viver.

Por Mario Quintana

CANÇÃO DO AMOR IMPREVISTO Eu sou um homem fechado. O mundo me tornou egoísta e mau. E a minha poesia é um vício triste, Desesperado e solitário Que eu faço tudo por abafar. Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada, Com o teu passo leve, Com esses teus cabelos... E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender nada, numa alegria atônita... A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil Aonde viessem pousar os passarinhos.

Por Mario Quintana

A saudade é o que faz as coisas pararem no tempo.

Por Mario Quintana

Esperança Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano Vive uma louca chamada Esperança E ela pensa que quando todas as sirenas Todas as buzinas Todos os reco-recos tocarem Atira-se E — ó delicioso voo! Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada, Outra vez criança... E em torno dela indagará o povo: — Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes? E ela lhes dirá (É preciso dizer-lhes tudo de novo!) Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam: — O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

Por Mario Quintana

Voa um par de andorinhas, fazendo verão. E vem uma vontade de rasgar velhas cartas, velhos poemas, velhas cartas recebidas. Vontade de mudar de camisa, por fora e por dentro... Vontade... para que esse pudor de certas palavras?... Vontade de amar, simplesmente.

Por Mario Quintana

SIMULTANEIDADE - Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver! - Você é louco? - Não, sou poeta.

Por Mario Quintana

Às vezes a gente pensa que está dizendo bobagens e está fazendo poesia.

Por Mario Quintana

Conhecer o mistério de um corpo é talvez mais importante do que conhecer o mistério de uma alma.

Por Mario Quintana

Tão bom morrer de amor! E continuar vivendo...

Por Mario Quintana

Tão bom morrer de amor! E continuar vivendo...

Por Mario Quintana

Três amores... Quem me deu Tão estranha sorte assim? Três amores, tenho-os eu E nenhum me tem a mim!

Por Mario Quintana

Sê bom Mas ao coração Prudência e cautela ajunta. Quem todo de mel se unta, Os ursos o lamberão.

Por Mario Quintana

Quando guri, eu tinha de me calar à mesa: só as pessoas grandes falavam. Agora, depois de adulto, tenho de ficar calado para as crianças falarem.

Por Mario Quintana

Quem faz um poema abre uma janela. Respira, tu que estás numa cela abafada, esse ar que entra por ela. Por isso é que os poemas têm ritmo – para que possas profundamente respirar. Quem faz um poema salva um afogado.

Por Mario Quintana

Há 2 espécies de chatos: os chatos propriamente ditos e os amigos, que são os nossos chatos prediletos.

Por Mario Quintana

A amizade é um amor que nunca morre.

Por Mario Quintana

Se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem devagarinho.

Por Mario Quintana

Se alguém te perguntar o que quiseste dizer com um poema, pergunta-lhe o que Deus quis dizer com este mundo...

Por Mario Quintana

Lavoisier "Nada se perde, tudo muda de dono" - tardia reflexão de Lavoisier ao descobrir que lhe haviam roubado a carteira.

Por Mario Quintana

A amizade é um amor que nunca morre.

Por Mario Quintana

Se eu amo o meu semelhante? Sim. Mas onde encontrar o meu semelhante?

Por Mario Quintana

Mas que susto não irão levar essas velhas carolas se Deus existe mesmo...

Por Mario Quintana

DAS UTOPIAS Se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para não querê-las... Que tristes os caminhos, se não fora A presença distante das estrelas!

Por Mario Quintana

A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda.

Por Mario Quintana

Se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem devagarinho.

Por Mario Quintana

A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas.

Por Mario Quintana

[Busca] Subnutrido de beleza, meu cachorro-poema vai farejando poesia em tudo, pois nunca se sabe quanto tesouro andará desperdiçado por aí... Quanto filhotinho de estrela atirado no lixo!

Por Mario Quintana

A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas.

Por Mario Quintana

Maravilhas nunca faltaram ao mundo; o que sempre falta é a capacidade de senti-las e admirá-las.

Por Mario Quintana