Frases e palavras de impacto de Cecília Meireles!

Epigrama n. 2 És precária e veloz, Felicidade. Custas a vir e, quando vens, não te demoras. Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo, e, para te medir, se inventaram as horas. Felicidade, és coisa estranha e dolorosa: Fizeste para sempre a vida ficar triste: Porque um dia se vê que as horas todas passam, e um tempo despovoado e profundo, persiste.

Por Cecília Meireles

Motivo Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: — mais nada.

Por Cecília Meireles

No mistério do sem-fim Equilibra-se um planeta E, no jardim, um canteiro No canteiro, uma violeta E, sobre ela, o dia inteiro A asa de uma borboleta

Por Cecília Meireles

Retrato Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face?

Por Cecília Meireles

Não digas onde acaba o dia. Onde começa a noite. Não fales palavras vãs. As palavras do mundo. Não digas onde começa a Terra, Onde termina o céu Não digas até onde és tu. Não digas desde onde és Deus. Não fales palavras vãs. Desfaze-te da vaidade triste de falar. Pensa,completamente silencioso, Até a glória de ficar silencioso, Sem pensar.

Por Cecília Meireles

Não seja o de hoje. Não suspires por ontens... Não queiras ser o de amanhã. Faze-te sem limites no tempo.

Por Cecília Meireles

Faze-te sem limites no tempo.

Por Cecília Meireles

NÃO: JÁ NÃO FALO DE TI Não: já não falo de ti, já não sei de saudades. Feche-se o coração como um livro, cheio de imagens, de palavras adormecidas, em altas prateleiras, até que o pó desfaça o pobre desespero sem força, que um dia, pode ser, parece tão terrível. A aranha dorme em sua teia, lá fora, entre a roseira e o muro. Resplandecem os azulejos- e tudo quanto posso ver. O resto é imaginado, e não coincide, e é temerário cismar. Talvez se as pálpebras pudessem inventar outros sonhos, não de vida... Ah! rompem-se na noite ardentes violas, pelo ar e pelo frio subitamente roçadas. Por onde pascerão, nestes céus invioláveis, nossas perguntas com suas crinas de séculos arrastando-se... Não só de amor a noite transborda mas de terríveis crueldades, loucuras, de homicídios mais verdadeiros. Os homens de sangue estão nas esquinas resfolegando, e os homens da lei sonolentos movem letras sobre imensos papéis que eles mesmos não entendem... Ah! que rosto amaríamos ver inclinar-se na aérea varanda? Nem os santos podem mais nada. Talvez os anjos abstratos da álgebra e da geometria.

Por Cecília Meireles

Apresentação Aqui está minha vida - esta areia tão clara com desenhos de andar dedicados ao vento. Aqui está minha voz - esta concha vazia, sombra de som curtindo o seu próprio lamento. Aqui está minha dor - este coral quebrado, sobrevivendo ao seu patético momento. Aqui está minha herança - este mar solitário, que de um lado era amor e, do outro, esquecimento.

Por Cecília Meireles

Morro do que há no mundo: do que vi, do que ouvi. Morro do que vivi. Morro comigo, apenas: com lembranças amadas, porém desesperadas. Morro cheia de assombro por não sentir em mim nem princípio nem fim. Morro: e a circunferência fica, em redor, fechada. Dentro sou tudo e nada.

Por Cecília Meireles

Nunca ninguém viu ninguém que o amor pusesse tão triste. Essa tristeza não viste, e eu sei que ela se vê bem...

Por Cecília Meireles

PERGUNTO-TE ONDE SE ACHA A MINHA VIDA Pergunto-te onde se acha a minha vida. Em que dia fui eu. Que hora existiu formada de uma verdade minha bem possuída Vão-se as minhas perguntas aos depósitos do nada. E a quem é que pergunto? Em quem penso, iludida por esperanças hereditárias? E de cada pergunta minha vai nascendo a sombra imensa que envolve a posição dos olhos de quem pensa. Já não sei mais a diferença de ti, de mim, da coisa perguntada, do silêncio da coisa irrespondida.

Por Cecília Meireles

SONETO ANTIGO Responder a perguntas não respondo. Perguntas impossíveis não pergunto. Só do que sei de mim aos outros conto: de mim, atravessada pelo mundo. Toda a minha experiência, o meu estudo, sou eu mesma que, em solidão paciente, recolho do que em mim observo e escuto muda lição, que ninguém mais entende. O que sou vale mais do que o meu canto. Apenas em linguagem vou dizendo caminhos invisíveis por onde ando. Tudo é secreto e de remoto exemplo. Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo. E todos somos pura flor de vento.

Por Cecília Meireles

Despedida Por mim, e por vós, e por mais aquilo que está onde as outras coisas nunca estão, deixo o mar bravo e o céu tranqüilo: quero solidão. Meu caminho é sem marcos nem paisagens. E como o conheces? - me perguntarão. - Por não ter palavras, por não ter imagens. Nenhum inimigo e nenhum irmão. Que procuras? - Tudo. Que desejas? - Nada. Viajo sozinha com o meu coração. Não ando perdida, mas desencontrada. Levo o meu rumo na minha mão. A memória voou da minha fronte. Voou meu amor, minha imaginação... Talvez eu morra antes do horizonte. Memória, amor e o resto onde estarão? Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra. (Beijo-te, corpo meu, todo desilusão! Estandarte triste de uma estranha guerra...) Quero solidão.

Por Cecília Meireles

TUMULTO Tempestade... O desgrenhamento das ramagens... O choro vão da água triste, do longo vento, vem morrer-me no coração. A água triste cai como um sonho, sonho velho que se esqueceu... ( Quando virás, ó meu tristonho Poeta, ó doce troveiro meu!...) E minha alma, sem luz nem tenda, passa errante, na noite má, à procura de quem me entenda e de quem me consolará...

Por Cecília Meireles

PANORAMA ALÉM Não sei que tempo faz, nem se é noite ou se é dia. Não sinto onde é que estou, nem se estou. Não sei de nada. Nem de ódio, nem amor. Tédio? Melancolia. -Existência parada. Existência acabada. Nem se pode saber do que outrora existia. A cegueira no olhar. Toda a noite calada no ouvido. Presa a voz. Gesto vão. Boca fria. A alma, um deserto branco: -o luar triste na geada... Silêncio. Eternidade. Infinito. Segredo. Onde, as almas irmãs? Onde, Deus? Que degredo! Ninguém.... O ermo atrás do ermo: - é a paisagem daqui. Tudo opaco... E sem luz... E sem treva... O ar absorto... Tudo em paz... Tudo só... Tudo irreal... Tudo morto... Por que foi que eu morri? Quando foi que eu morri?

Por Cecília Meireles

E minha alma, sem luz nem tenda, passa errante, na noite má, à procura de quem me entenda e de quem me consolará...

Por Cecília Meireles

Canção de Outono Perdoa-me, folha seca, não posso cuidar de ti. Vim para amar neste mundo, e até do amor me perdi. De que serviu tecer flores pelas areias do chão se havia gente dormindo sobre o próprio coração? E não pude levantá-la! Choro pelo que não fiz. E pela minha fraqueza é que sou triste e infeliz. Perdoa-me, folha seca! Meus olhos sem força estão velando e rogando aqueles que não se levantarão... Tu és folha de outono voante pelo jardim. Deixo-te a minha saudade - a melhor parte de mim. E vou por este caminho, certa de que tudo é vão. Que tudo é menos que o vento, menos que as folhas do chão...

Por Cecília Meireles

Inscrição na Areia O meu amor não tem importância nenhuma. Não tem o peso nem de uma rosa de espuma! Desfolha-se por quem? Para quem se perfuma? O meu amor não tem importância nenhuma.

Por Cecília Meireles

Tenho fases, como a Lua; fases de ser sozinha, fases de ser só sua.

Por Cecília Meireles

Sou entre flor e nuvem, estrela e mar. Por que havemos de ser unicamente humanos, limitados em chorar? Não encontro caminhos fáceis de andar. Meu rosto vário desorienta as firmes pedras que não sabem de água e de ar.

Por Cecília Meireles

Serenata Permita que eu feche os meus olhos, pois é muito longe e tão tarde! Pensei que era apenas demora, e cantando pus-me a esperar-te. Permita que agora emudeça: que me conforme em ser sozinha. Há uma doce luz no silêncio, e a dor é de origem divina. Permita que eu volte o meu rosto para um céu maior que este mundo, e aprenda a ser dócil no sonho como as estrelas no seu rumo.

Por Cecília Meireles

Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.

Por Cecília Meireles

Entre mim e mim, há vastidões bastantes para a navegação de meus desejos afligidos.

Por Cecília Meireles

Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.

Por Cecília Meireles