Frases e palavras de impacto de Ricardo Reis!

Segue o teu destino, Rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas. O resto é a sombra De árvores alheias. A realidade Sempre é mais ou menos Do que nós queremos. Só nós somos sempre Iguais a nós-próprios. Suave é viver só. Grande e nobre é sempre Viver simplesmente. Deixa a dor nas aras Como ex-voto aos deuses. Vê de longe a vida. Nunca a interrogues. Ela nada pode Dizer-te. A resposta Está além dos deuses. Mas serenamente Imita o Olimpo No teu coração. Os deuses são deuses Porque não se pensam.

Por Ricardo Reis

Sábio Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo, E ao beber nem recorda Que já bebeu na vida, Para quem tudo é novo E imarcescível sempre. Coroem-no pâmpanos, ou heras, ou rosas volúteis, Ele sabe que a vida Passa por ele e tanto Corta à flor como a ele De Átropos a tesoura. Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isto, Que o seu sabor orgíaco Apague o gosto às horas, Como a uma voz chorando O passar das bacantes. E ele espera, contente quase e bebedor tranqüilo, E apenas desejando Num desejo mal tido Que a abominável onda O não molhe tão cedo.

Por Ricardo Reis

Acima da Verdade Acima da verdade estão os deuses. A nossa ciência é uma falhada cópia Da certeza com que eles Sabem que há o Universo. Tudo é tudo, e mais alto estão os deuses, Não pertence à ciência conhecê-los, Mas adorar devemos Seus vultos como às flores, Porque visíveis à nossa alta vista, São tão reais como reais as flores E no seu calmo Olimpo São outra Natureza.

Por Ricardo Reis

Cada dia sem gozo não foi teu Cada dia sem gozo não foi teu Foi só durares nele. Quanto vivas Sem que o gozes, não vives. Não pesa que amas, bebas ou sorrias: Basta o reflexo do sol ido na água De um charco, se te é grato. Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas Seu prazer posto, nenhum dia nega A natural ventura!

Por Ricardo Reis

Nada fica de nada. Nada somos. Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos Da irrespirável treva que nos pesa Da úmida terra imposta. Leis feitas, estátuas altas, odes findas - Tudo tem cova sua. Se nós, carnes A que um íntimo sol dá sangue, temos Poente, porque não elas? O que fazemos é o que somos. Nada Nos cria, nos governa e nos acaba. Somos contos contando contos, cadáveres Adiados que procriam.

Por Ricardo Reis

Temo, Lídia Temo, Lídia, o destino. Nada é certo. Em qualquer hora pode suceder-nos O que nos tudo mude. Fora do conhecido é estranho o passo Que próprio damos. Graves numes guardam As lindas do que é uso. Não somos deuses; cegos, receemos, E a parca dada vida anteponhamos À novidade, abismo.

Por Ricardo Reis

Se recordo quem fui, outrem me vejo, E o passado é o presente na lembrança. Quem fui é alguém que amo Porém somente em sonho. E a saudade que me aflige a mente Não é de mim nem do passado visto, Senão de quem habito Por trás dos olhos cegos. Nada, senão o instante, me conhece. Minha mesma lembrança é nada, e sinto Que quem sou e quem fui São sonhos diferentes.

Por Ricardo Reis

A Abelha A abelha que, voando, freme sobre A colorida flor, e pousa, quase Sem diferença dela À vista que não olha, Não mudou desde Cecrops. Só quem vive Uma vida com ser que se conhece Envelhece, distinto Da espécie de que vive. Ela é a mesma que outra que não ela. Só nós — ó tempo, ó alma, ó vida, ó morte! — Mortalmente compramos Ter mais vida que a vida.

Por Ricardo Reis

Aos que a felicidade É sol, virá a noite. Mas ao que nada espera Tudo que vem é grato.

Por Ricardo Reis

No Ciclo Eterno No ciclo eterno das mudáveis coisas Novo inverno após novo outono volve À diferente terra Com a mesma maneira. Porém a mim nem me acha diferente Nem diferente deixa-me, fechado Na clausura maligna Da índole indecisa. Presa da pálida fatalidade De não mudar-me, me infiel renovo Aos propósitos mudos Morituros e infindos.

Por Ricardo Reis

A flor que és, não a que dás, eu quero. Porque me negas o que te não peço. Tempo há para negares Depois de teres dado. Flor, sê-me flor! Se te colher avaro A mão da infausta esfinge, tu perere Sombra errarás absurda, Buscando o que não deste.

Por Ricardo Reis

Prefiro Rosas Prefiro rosas, meu amor, à pátria, E antes magnólias amo Que a glória e a virtude. Logo que a vida me não canse, deixo Que a vida por mim passe Logo que eu fique o mesmo. Que importa àquele a quem já nada importa Que um perca e outro vença, Se a aurora raia sempre, Se cada ano com a primavera As folhas aparecem E com o outono cessam? E o resto, as outras coisas que os humanos Acrescentam à vida, Que me aumentam na alma? Nada, salvo o desejo de indiferença E a confiança mole Na hora fugitiva.

Por Ricardo Reis

Segue o teu destino, Rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas. O resto é a sombra De árvores alheias. A realidade Sempre é mais ou menos Do que nós queremos. Só nós somos sempre Iguais a nós-próprios. Suave é viver só. Grande e nobre é sempre Viver simplesmente. Deixa a dor nas aras Como ex-voto aos deuses. Vê de longe a vida. Nunca a interrogues. Ela nada pode Dizer-te. A resposta Está além dos deuses. Mas serenamente Imita o Olimpo No teu coração. Os deuses são deuses Porque não se pensam.

Por Ricardo Reis

O deus Pã não morreu, Cada campo que mostra Aos sorrisos de Apolo Os peitos nus de Ceres — Cedo ou tarde vereis Por lá aparecer O deus Pã, o imortal. Não matou outros deuses O triste deus cristão. Cristo é um deus a mais, Talvez um que faltava. Pã continua a dar Os sons da sua flauta Aos ouvidos de Ceres Recumbente nos campos. Os deuses são os mesmos, Sempre claros e calmos, Cheios de eternidade E desprezo por nós, Trazendo o dia e a noite E as colheitas douradas Sem ser para nos dar O dia e a noite e o trigo Mas por outro e divino Propósito casual.

Por Ricardo Reis

Aguardo, equânime, o que não conheço — Meu futuro e o de tudo. No fim tudo será silêncio, salvo Onde o mar banhar nada. Aqui, Dizeis Aqui, dizeis, na cova a que me abeiro, Não 'stá quem eu amei. Olhar nem riso Se escondem nesta leira. Ah, mas olhos e boca aqui se escondem! Mãos apertei, não alma, e aqui jazem. Homem, um corpo choro! Aqui

Por Ricardo Reis

Nada Fica Nada fica de nada. Nada somos. Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos Da irrespirável treva que nos pese Da humilde terra imposta, Cadáveres adiados que procriam. Leis feitas, estátuas vistas, odes findas — Tudo tem cova sua. Se nós, carnes A que um íntimo sol dá sangue, temos Poente, por que não elas? Somos contos contando contos, nada.

Por Ricardo Reis

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. Sossegadamente, fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. Enlacemos as mãos...

Por Ricardo Reis

Coroai-me de rosas, Coroai-me em verdade, De rosas — Rosas que se apagam Em fronte a apagar-se Tão cedo! Coroai-me de rosas E de folhas breves. E basta.

Por Ricardo Reis

Mas tal como é, gozemos o momento, Solenes na alegria levemente, E aguardando a morte Como quem a conhece.

Por Ricardo Reis

Prefiro Rosas Prefiro rosas, meu amor, à pátria, E antes magnólias amo Que a glória e a virtude. Logo que a vida me não canse, deixo Que a vida por mim passe Logo que eu fique o mesmo. Que importa àquele a quem já nada importa Que um perca e outro vença, Se a aurora raia sempre, Se cada ano com a primavera As folhas aparecem E com o outono cessam? E o resto, as outras coisas que os humanos Acrescentam à vida, Que me aumentam na alma? Nada, salvo o desejo de indiferença E a confiança mole Na hora fugitiva.

Por Ricardo Reis

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlacemos as mãos.) Depois pensemos, crianças adultas, que a vida Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado, Mais longe que os deuses. Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio. Mais vale saber passar silenciosamente E sem desassosegos grandes. Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz, Nem invejas que dão movimento demais aos olhos, Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria, E sempre iria ter ao mar. Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos, Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias, Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro Ouvindo correr o rio e vendo-o. Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as No colo, e que o seu perfume suavize o momento — Este momento em que sossegadamente não cremos em nada, Pagãos inocentes da decadência. Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova, Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos Nem fomos mais do que crianças. E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio, Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti. Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio, Pagã triste e com flores no regaço.

Por Ricardo Reis

Vivem em nós inúmeros; Se penso ou sinto, ignoro Quem é que pensa ou sente. Sou somente o lugar Onde se sente ou pensa. Tenho mais almas que uma. Há mais eus do que eu mesmo. Existo todavia Indiferente a todos. Faço-os calar: eu falo. Os impulsos cruzados Do que sinto ou não sinto Disputam em quem sou. Ignoro-os. Nada ditam A quem me sei: eu escrevo.

Por Ricardo Reis

Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive.

Por Ricardo Reis

No Ciclo Eterno No ciclo eterno das mudáveis coisas Novo inverno após novo outono volve À diferente terra Com a mesma maneira. Porém a mim nem me acha diferente Nem diferente deixa-me, fechado Na clausura maligna Da índole indecisa. Presa da pálida fatalidade De não mudar-me, me infiel renovo Aos propósitos mudos Morituros e infindos.

Por Ricardo Reis

Muitas vezes precisamos ser iguais ao golfinho, sair de nosso mundo apenas por instinto e sem perder nossas origens.

Por Ricardo Reis

Antes de Nós Antes de nós nos mesmos arvoredos Passou o vento, quando havia vento, E as folhas não falavam De outro modo do que hoje. Passamos e agitamo-nos debalde. Não fazemos mais ruído no que existe Do que as folhas das árvores Ou os passos do vento.

Por Ricardo Reis

Breve o Dia Breve o dia, breve o ano, breve tudo. Não tarda nada sermos. Isto, pensado, me de a mente absorve Todos mais pensamentos. O mesmo breve ser da mágoa pesa-me, Que, inda que mágoa, é vida.

Por Ricardo Reis

Aos que a felicidade É sol, virá a noite. Mas ao que nada espera Tudo que vem é grato.

Por Ricardo Reis

Aquele momento em que subimos nossos olhos ao céu pra não deixar cair uma lágrima no chão.

Por Ricardo Reis

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos, Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias, Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Por Ricardo Reis

Cada Um Cada um cumpre o destino que lhe cumpre, E deseja o destino que deseja; Nem cumpre o que deseja, Nem deseja o que cumpre. Como as pedras na orla dos canteiros O Fado nos dispõe, e ali ficamos; Que a Sorte nos fez postos Onde houvemos de sê-lo. Não tenhamos melhor conhecimento Do que nos coube que de que nos coube. Cumpramos o que somos. Nada mais nos é dado.

Por Ricardo Reis

Concentra-te, e serás sereno e forte; Mas concentra-te fora de ti mesmo. Não sê mais para ti que o pedestal No qual ergas a estátua do teu ser. Tudo mais empobrece, porque é pobre.

Por Ricardo Reis

Ninguém a outro ama, senão que ama O que de si há nele, ou é suposto.

Por Ricardo Reis

Nada, senão o instante, me conhece.

Por Ricardo Reis

Morre! Tudo é tão pouco! Nada se sabe, tudo se imagina. Circunda-te de rosas, ama, bebe E cala. O mais é nada.

Por Ricardo Reis

Quer pouco: terás tudo. Quer nada: serás livre. O mesmo amor que tenham Por nós, quer-nos, oprime-nos.

Por Ricardo Reis

Abdica E sê Rei de ti próprio.

Por Ricardo Reis

Ninguém a outro ama, senão que ama O que de si há nele, ou é suposto. Nada te pese que não te amem. Sentem-te Quem és, e és estrangeiro. Cura de ser quem és, amam-te ou nunca. Firme contigo, sofrerás avaro De penas.

Por Ricardo Reis

Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive.

Por Ricardo Reis

A Cada Qual A cada qual, como a estatura, é dada A justiça: uns faz altos O fado, outros felizes. Nada é prémio: sucede o que acontece. Nada, Lídia, devemos Ao fado, senão tê-lo.

Por Ricardo Reis