Frases e palavras de impacto de Conceição Evaristo!

Todas as manhãs junto ao nascente dia ouço a minha voz-banzo, âncora dos navios de nossa memória. E acredito, acredito sim que os nossos sonhos protegidos pelos lençóis da noite ao se abrirem um a um no varal de um novo tempo escorrem as nossas lágrimas fertilizando toda a terra onde negras sementes resistem reamanhecendo esperanças em nós.

Por Conceição Evaristo

Recordar é preciso O mar vagueia onduloso sob os meus pensamentos A memória bravia lança o leme: Recordar é preciso. O movimento vaivém nas águas-lembranças dos meus marejados olhos transborda-me a vida, salgando-me o rosto e o gosto. Sou eternamente náufraga, mas os fundos oceanos não me amedrontam e nem me imobilizam. Uma paixão profunda é a bóia que me emerge. Sei que o mistério subsiste além das águas.

Por Conceição Evaristo

Gosto de escrever palavras inteiras, cortadas, compostas, frases, não frases. Gosto de ver as palavras plenas de sentido ou carregadas de vazio dependuradas no varal da linha. Palavras caídas, apanhadas, surgidas, inventadas na corda bamba da vida.

Por Conceição Evaristo

Meia lágrima Não, a água não me escorre entre os dedos, tenho as mãos em concha e no côncavo de minhas palmas meia gota me basta. Das lágrimas em meus olhos secos, basta o meio tom do soluço para dizer o pranto inteiro. Sei ainda ver com um só olho, enquanto o outro, o cisco cerceia e da visão que me resta vazo o invisível e vejo as inesquecíveis sombras dos que já se foram. Da língua cortada, digo tudo, amasso o silencio e no farfalhar do meio som solto o grito do grito do grito e encontro a fala anterior, aquela que emudecida, conservou a voz e os sentidos nos labirintos da lembrança.

Por Conceição Evaristo

Do fogo que em mim arde Sim, eu trago o fogo, o outro, não aquele que te apraz. Ele queima sim, é chama voraz que derrete o bivo de teu pincel incendiando até ás cinzas O desejo-desenho que fazes de mim. Sim, eu trago o fogo, o outro, aquele que me faz, e que molda a dura pena de minha escrita. é este o fogo, o meu, o que me arde e cunha a minha face na letra desenho do auto-retrato meu.

Por Conceição Evaristo

Da calma e do silêncio Quando eu morder a palavra, por favor, não me apressem, quero mascar, rasgar entre os dentes, a pele, os ossos, o tutano do verbo, para assim versejar o âmago das coisas. Quando meu olhar se perder no nada, por favor, não me despertem, quero reter, no adentro da íris, a menor sombra, do ínfimo movimento. Quando meus pés abrandarem na marcha, por favor, não me forcem. Caminhar para quê? Deixem-me quedar, deixem-me quieta, na aparente inércia. Nem todo viandante anda estradas, há mundos submersos, que só o silêncio da poesia penetra.

Por Conceição Evaristo

A vida era um tempo misturado do antes-agora-depois-e-do-depois-ainda. A vida era a mistura de todos e de tudo. Dos que foram, dos que estavam sendo e dos que viriam a ser.

Por Conceição Evaristo

Se ao menos o medo me fizesse recuar, pelo contrário, avanço mais e mais na mesma proporção desse medo. É como se o medo fosse uma coragem ao contrário.

Por Conceição Evaristo

Às vezes a morte é leve como a poeira. E a vida se confunde com um pó branco qualquer. Às vezes é uma fumaça adocicada enchendo o pulmão da gente.

Por Conceição Evaristo

Uma gota de leite me escorre entre os seios. Uma mancha de sangue me enfeita entre as pernas. Meia palavra mordida me foge da boca. Vagos desejos insinuam esperanças. Eu-mulher em rios vermelhos inauguro a vida. Em baixa voz violento os tímpanos do mundo. Antevejo. Antecipo. Antes-vivo Antes – agora – o que há de vir. Eu fêmea-matriz. Eu força-motriz. Eu-mulher abrigo da semente moto-contínuo do mundo.

Por Conceição Evaristo

A voz de minha mãe ecoou baixinho revolta no fundo das cozinhas alheias debaixo das trouxas roupagens sujas dos brancos pelo caminho empoeirado rumo à favela. A minha voz ainda ecoa versos perplexos com rimas de sangue e fome. A voz de minha filha recolhe todas as nossas vozes recolhe em si as vozes mudas caladas engasgadas nas gargantas. A voz de minha filha recolhe em si a fala e o ato. O ontem – o hoje – o agora. Na voz de minha filha se fará ouvir a ressonância o eco da vida-liberdade.

Por Conceição Evaristo

As palavras, às vezes, feriam segredos e escorregavam pela ladeira abaixo parando lá na delegacia.

Por Conceição Evaristo

Enquanto o sofrimento estivesse vivo na memória de todos, quem sabe não procurariam, nem que fosse pela força do desejo, a criação de um novo destino.

Por Conceição Evaristo

Gosto de dizer ainda que a escrita é para mim o movimento de dança-canto que o meu corpo não executou, é a senha pela qual eu acesso o mundo.

Por Conceição Evaristo

Relembrava a vida passada, pensava no presente, mas não sonhava e nem inventava nada para o futuro.

Por Conceição Evaristo

Achava também que qualquer vida era um risco e o risco maior era o de não tentar viver.

Por Conceição Evaristo

Escrever funciona para mim como uma febre incontrolável, que arde, arde, arde…

Por Conceição Evaristo

⁠A academia é um reflexo da sociedade brasileira

Por Conceição Evaristo

Escrever é uma maneira de sangrar.

Por Conceição Evaristo

O meu texto é um lugar onde as mulheres se sentem em casa.

Por Conceição Evaristo

O imaginário brasileiro, pelo racismo, não concebe reconhecer que as mulheres negras são intelectuais.

Por Conceição Evaristo

O amor pedia o direito de amar, somente.

Por Conceição Evaristo

⁠Quando eu morder a palavra, por favor, não me apressem, quero mascar, rasgar entre os dentes, a pele, os ossos, o tutano do verbo, para assim versejar o âmago das coisas.

Por Conceição Evaristo

⁠O importante não é ser o primeiro ou primeira, o importante é abrir caminhos.

Por Conceição Evaristo

... Menina, eu queria te compor em versos, cantar os desconcertantes mistérios que brincam em ti mas teus contornos me escapolem. Menina, meu poema primeiro, cuida de mim.

Por Conceição Evaristo