Frases e palavras de impacto de Billy Collins!

Pergunto-me como te vais sentir quando descobrires que fui eu que escrevi isto em vez de ti, que fui eu que me levantei cedo para me sentar na cozinha e mencionar com uma caneta as janelas ensopadas pela chuva, o papel de parede com heras, o peixe-dourado circulando no aquário. Vá lá, dá a volta, morde o lábio e arranca a página, mas, escuta - era só uma questão de tempo até que um de nós casualmente reparasse nas velas apagadas no relógio murmurando na parede. Para além disso, nada ocorreu nessa manhã – uma canção na rádio, um carro assobiando na estrada lá fora – e eu simplesmente pensando no saleiro e no pimenteiro colocados lado a lado num mantel individual. Perguntei-me se se haviam feito amigos depois de todos estes anos ou se ainda eram estranhos um para o outro como tu e eu que conseguimos ser conhecidos e desconhecidos um para o outro ao mesmo tempo – eu a esta mesa com uma fruteira de pêras, tu encostado algures na entrada de uma casa junto a umas hortênsias azuis lendo isto.

Por Billy Collins

OUTRA RAZÃO PARA EU NÃO TER UMA ARMA EM CASA O cachorro do vizinho não vai parar de latir. Ele está latindo o mesmo alto, rítmico latido que late todas as vezes que eles saem de casa. Eles devem ligá-lo na hora de sair. O cachorro do vizinho não vai parar de latir. Eu tranco todas as janelas da casa e toco uma sinfonia de Beethoven no máximo mas ainda posso ouví-lo abafado pela música, latindo, latindo, latindo, E agora posso vê-lo sentado na orquestra, seu focinho confiantemente erguido como se Beethoven tivesse incluído na partitura o cachorro latindo. Quando o disco finalmente acaba ele continua latindo, sentado ali na seção de oboés latindo, seus olhos fixos no maestro que está lhe regendo com a batuta enquanto os demais músicos ouvem em respeitoso silêncio o famoso solo de cachorro latindo, aquele trecho infindável que primeiro consagrou Beethoven como um gênio criativo.

Por Billy Collins

INTRODUÇÃO À POESIA Peço a eles que peguem um poema e o segurem à luz como um negativo colorido ou que aproximem o ouvido contra sua colméia. Digo jogue um rato dentro do poema e observe-o procurar a saída, ou caminhe na sala do poema tocando as paredes à procura do interruptor. Quero que eles esquiem sobre as águas do poema acenando para o nome do autor à margem. Mas tudo o que querem é amarrar o poema a uma cadeira e torturá-lo até obter uma confissão. Eles começam a bater nele com a mangueira para descobrir o que ele realmente significa.

Por Billy Collins

O meu livro de instruções de poesia, comprado num quiosque junto ao rio, contém várias regras sobre o que evitar e o que seguir. Mais de duas pessoas num poema é uma multidão, eis uma. Mencionar que roupa usas enquanto escreves, é outra. Evitar a palavra vórtice, a palavra aveludado, e a palavra cigarra. À falta de um final, coloca umas galinhas castanhas em plena chuva. Nunca admitas que reves. E – mantém sempre o teu poema numa só estação. Tento estar atento, mas nestes últimos dias de verão sempre que elevo os olhos da página e vejo uma mancha queimada de folhas amarelas, penso nos ventos glaciais que brevemente me atravessarão o casaco.

Por Billy Collins

CONSTELAÇÕES Sim, aquela ali é Orion, os três orificios do cinto nitidamente enfileirados para lá do horizonte. E se te virares podes ver Gémeos, muito nítida esta noite, os gémeos com o olhar perdido no espaço como sempre. Aquele grupo um pouco mais acima no céu é Cassiopeia sentada na sua cadeira astral se não estou em erro. E mesmo acima de nossas cabeças, não parece Virgínia Wolf deslizando ao longo do Rio Ouse na sua canoa insuflável? Vês o sombreiro de aba larga e além, a silhueta do remo, levantado, gotejando estrelas?

Por Billy Collins