Frases e palavras de impacto de Adélia Prado!

Com licença poética Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não sou tão feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos -- dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou.

Por Adélia Prado

Um corpo quer outro corpo. Uma alma quer outra alma e seu corpo. Este excesso de realidade me confunde. Jonathan falando: parece que estou num filme. Se eu lhe dissesse você é estúpido ele diria sou mesmo. Se ele dissesse vamos comigo ao inferno passear eu iria. As casas baixas, as pessoas pobres, e o sol da tarde, imaginai o que era o sol da tarde sobre a nossa fragilidade. Vinha com Jonathan pela rua mais torta da cidade. O Caminho do Céu.

Por Adélia Prado

Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô.

Por Adélia Prado

AMOR FEINHO Eu quero amor feinho. Amor feinho não olha um pro outro. Uma vez encontrado, é igual fé, não teologa mais. Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo e filhos tem os quantos haja. Tudo que não fala, faz. Planta beijo de três cores ao redor da casa e saudade roxa e branca, da comum e da dobrada. Amor feinho é bom porque não fica velho. Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é: eu sou homem você é mulher. Amor feinho não tem ilusão, o que ele tem é esperança: eu quero amor feinho.

Por Adélia Prado

Não tenho mais tempo algum, ser feliz me consome.

Por Adélia Prado

Casamento Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como “este foi difícil” “prateou no ar dando rabanadas” e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva.

Por Adélia Prado

Mulher é desdobrável. Eu sou.

Por Adélia Prado

A Serenata Uma noite de lua pálida e gerânios ele virá com a boca e mão incríveis tocar flauta no jardin. Estou no começo do meu dessespero e só vejo dois caminhos: ou viro doida ou santa. Eu que rejeito e exprobo o que não for natural como sangue e veias descubro que estou chorando todo dia, os cabelos entristecidos, a pele assaltada de indecisão. Quando ele vier, porque é certo que vem, de que modo vou chegar ao balcão sem juventude? A lua, os gerânios e ele serão os mesmos - só a mulher entre as coisas envelhece. De que modo vou abrir a janela,se não for doida? Como a fecharei, se não for santa?

Por Adélia Prado

Dona Doida Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora. Quando se pôde abrir as janelas, as poças tremiam com os últimos pingos. Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema, decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos. Fui buscar os chuchus e estou voltando agora, trinta anos depois. Não encontrei minha mãe. A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha, com sombrinha infantil e coxas à mostra. Meus filhos me repudiaram envergonhados, meu marido ficou triste até a morte, eu fiquei doida no encalço. Só melhoro quando chove.

Por Adélia Prado

Deus é mais belo que eu. E não é jovem. Isto sim, é consolo.

Por Adélia Prado

O que a memória ama fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.

Por Adélia Prado

A vida é muito bonita, basta um beijo e a delicada engrenagem movimenta-se, uma necessidade cósmica nos protege.

Por Adélia Prado

As sensibilidades sem governo.

Por Adélia Prado

Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito.

Por Adélia Prado

Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira(…) Vai ser coxo na vida é maldição para homem. Mulher é desdobrável. Eu sou.

Por Adélia Prado

Não quero faca nem queijo. Quero a fome.

Por Adélia Prado

O sonho encheu a noite Extravasou pro meu dia Encheu minha vida E é dele que eu vou viver Porque sonho não morre.

Por Adélia Prado

Meu Deus, me dá cinco anos, me dá a mão, me cura de ser grande.

Por Adélia Prado

A coisa mais fina do mundo é o sentimento. (Ensinamento)

Por Adélia Prado

O transe poético é o experimento de uma realidade anterior a você. Ela te observa e te ama. Isto é sagrado. É de Deus. É seu próprio olhar pondo nas coisas uma claridade inefável. Tentar dizê-la é o labor do poeta.

Por Adélia Prado

Exausto Eu quero uma licença de dormir, perdão pra descansar horas a fio, sem ao menos sonhar a leve palha de um pequeno sonho. Quero o que antes da vida foi o profundo sono das espécies, a graça de um estado. Semente. Muito mais que raízes.

Por Adélia Prado

"Não me falou em amor. Essa palavra de luxo."

Por Adélia Prado

Ama e nem sabe mais o que ama. (Pranto Para Comover Jonathan)

Por Adélia Prado

Assim que escurecer vou namorar. Que mundo ordenado e bom! Namorar quem? Minha alma nasceu desposada com um marido invisível.

Por Adélia Prado

Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica, mas atravessa a noite, a madrugada, o dia, atravessou minha vida, virou só sentimento.

Por Adélia Prado

Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito.

Por Adélia Prado