Sítio O morro está pegando fogo. O ar incômodo, grosso, faz do menor movimento um esforço, como andar sob outra atmosfera, entre panos úmidos, mudos, num caldo sujo de claras em neve. Os carros, no viaduto, engatam sua centopéia: olhos acesos, suor de diesel, ruído motor, desespero surdo. O sol devia estar se pondo, agora – mas como confirmar sua trajetória debaixo desta cúpula de pó, este céu invertido? Olhar o mar não traz nenhum consolo (se ele é um cachorro imenso, trêmulo, vomitando uma espuma de bile, e vem acabar de morrer na nossa porta). Uma penugem antagonista deitou nas folhas dos crisântemos e vai escurecendo, dia a dia, os olhos das margaridas, o coração das rosas. De madrugada, muda na caixa refrigerada, a carga de agulhas cai queimando tímpanos, pálpebras: O menino brincando na varanda. Dizem que ele não percebeu. De que outro modo poderia ainda ter virado o rosto: "Pai! acho que um bicho me mordeu!" assim que a bala varou sua cabeça?
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