Frases e palavras de impacto de Laura Liuzzi!

A noite esconde o mar que esconde os barcos que esconde os marinheiros mas ninguém tem os olhos fechados. Todos se espreitam e se ouvem sem sabê-lo. Os livros aparados na estante dizem o que dizem quando estão fechados? Estariam apenas em silêncio? Não há palavra que toque a coisa mas há palavra que a invente. Atravessar o vazio da sala de meias pode ser a solução para vencer a âncora desta noite porque todas as noites parecem não ter fim até que venha o sol anunciar que nada é tão complicado quanto parecia. O dia sucede.

Por Laura Liuzzi

Coração sobre cama Se de repente acordo é madrugada surpreende o coração descansa sobre os lençóis exausto não tenho sede nem sono e nem mais coração. Se acordei e é madrugada era pra ver você que não está nesta cama. Enquanto canto bem baixinho os batimentos desaceleram lentamente, quase imperceptível até a voz sumir entre os lençóis. Esperaremos a manhã o coração e eu e os jornais o carteiro as babás colocarão as coisas no lugar: o coração no peito você à distância os lençóis na lavanderia.

Por Laura Liuzzi

Vontade Entrar em casa sem que a porta rangesse, sem que o cachorro da vizinha farejasse minha vinda sem que o sofá conservasse as formas do meu corpo, sem que eu precisasse tomar aquele copo de água que toca o azulejo e emite um som rouco, sem que houvesse corpo. Entrar em casa como a música entra nos ouvidos.

Por Laura Liuzzi

Mesmo com os olhos semicerrados nota-se, atrás da nuvem do cigarro na leveza dos ombros e pescoço esguio na colher que descansa sobre o pires na dobra folgada da manga da camisa nos livros apoiados sem pressão na estante e na estante quase vazia atrás de si, ela moça arguta que sorve o mundo como quem sorve por hábito o café.

Por Laura Liuzzi

Sorrir nunca foi fácil. Cresço com a boca miúda e ainda não gosto de piadas. Conservo a interrogação quando de frente ao espelho: como pode ser tão diferente o frontal do perfil? E me pergunto, desde lá se todos enxergamos as mesmas coisas se a língua não é tão só um mesmo código para coisas distintas se entre mim e você não há um abismo sem solução. O que sei é o que não sei sobre projetos de futuro. E mesmo assim escrevo cartas (funcionam melhor que espelhos) para meu próprio endereço. Me respondo como se já tivesse arquivado toda a memória e pudesse confortar confrontar o porvir. Quando escrevo me passo a limpo sem riscar as imperfeições. A infância ainda gravita em mim. Não só a minha, mas outras que vêm com músicas sub-reptícias, por um atalho por onde atravessam com a velocidade incalculável do tempo. Dar nome às coisas: primeiro passo torto até que se deseje as coisas puras sem auxílio de som — a rosa única a pedra que se sabe pedra. Segundo passo, falho: inominar. Nos retratos guardamos nos olhos o vidro dos olhos do gato a cama ainda desfeita a última tempestade e o escuro do que virá. [Colher nas mãos o que das mesmas mãos se extinguiu: pedra papel tesoura.]

Por Laura Liuzzi