Frases e palavras de impacto de José Tolentino Mendonça!

Se me puderes ouvir O poder ainda puro das tuas mãos é mesmo agora o que mais me comove descobrem devagar um destino que passa e não passa por aqui à mesa do café trocamos palavras que trazem harmonias tantas vezes negadas: aquilo que nem ao vento sequer segredamos mas se hoje me puderes ouvir recomeça, medita numa viagem longa ou num amor talvez o mais belo

Por José Tolentino Mendonça

Os dias de Job Às vezes rezo sou um cego e vejo as palavras o reunir das sombras às vezes nada digo estendo as mãos como uma concha puro sinal da alma a porta queria que batesses tomasses um por um os meus refúgios estes dedos inquietos na ignorância do fogo pois que tempo abrigará os anjos e que dia erguerá todo o sol que há nas dunas por isso às vezes chove quando rezo às vezes quase neva sobre o pão

Por José Tolentino Mendonça

Os naufrágios são belos sentimo-nos tão vivos entre as ilhas, acreditas? e temos saudades desse mar que derruba primeiro no nosso corpo tudo o que seremos depois

Por José Tolentino Mendonça

Quietos fazemos as grandes viagens só a alma convive com as paragens estranhas

Por José Tolentino Mendonça

O silêncio não é ausência ou negação como ensinam os antigos é privação

Por José Tolentino Mendonça

A casa onde às vezes regresso A casa onde às vezes regresso é tão distante da que deixei pela manhã no mundo a água tomou o lugar de tudo reúno baldes, estes vasos guardados mas chove sem parar há muitos anos Durmo no mar, durmo ao lado de meu pai uma viagem se deu entre as mãos e o furor uma viagem se deu: a noite abate-se fechada sobre o corpo Tivesse ainda tempo e entregava-te o coração

Por José Tolentino Mendonça

A infância de Herberto Helder No princípio era a ilha embora se diga o Espírito de Deus abraçava as águas Nesse tempo estendia-me na terra para olhar as estrelas e não pensava que esses corpos de fogo pudessem ser perigosos Nesse tempo marcava a latitude das estrelas ordenando berlindes sobre a erva Não sabia que todo o poema é um tumulto que pode abalar a ordem do universo agora acredito Eu era quase um anjo e escrevia relatórios precisos acerca do silêncio Nesse tempo ainda era possível encontrar Deus pelos baldios Isto foi antes de aprender a álgebra

Por José Tolentino Mendonça

Revelação Meu o ofício incerto das palavras a evocação do tempo o recurso ao fogo Meu o provisório olhar sobre este rio o fascínio consentido das margens sitiando a distância Meus são os dedos que em tumulto modelam capitéis de sombra e arestas Mas oculto na brisa és Tu quem percorre o poema despertando as aves e dando nome aos peixes

Por José Tolentino Mendonça

Da verdade do amor Da verdade do amor se meditam relatos de viagens confissões e sempre excede a vida esse segredo que tanto desdém guarda de ser dito pouco importa em quantas derrotas te lançou as dores os naufrágios escondidos com eles aprendeste a navegação dos oceanos gelados não se deve explicar demasiado cedo atrás das coisas o seu brilho cresce sem rumor

Por José Tolentino Mendonça

Inscrição o brilho é o leve júbilo que sustenta os versos ainda que sejamos obscuros e nenhum nome sirva jamais para dizer o fogo

Por José Tolentino Mendonça

Deixa-me dar-te o verão o verão é feito de coisas que não precisam de nome um passeio de automóvel pela costa o tempo incalculável de uma presença o sofrimento que nos faz contar um por um os peixes do tanque e abandoná-los depressa às suas voltas escuras

Por José Tolentino Mendonça

Epitáfio para R.M. Rilke quando as palavras buscarem amparo em teu secreto canto serás ainda o único pastor do meu silêncio

Por José Tolentino Mendonça

Tudo é efémero: ontem escutava a tua voz hoje só o vento

Por José Tolentino Mendonça

O silêncio só raramente é vazio diz alguma coisa diz o que não é

Por José Tolentino Mendonça