Frases e palavras de impacto de José Paulo Paes!

Quando Cabral o descobriu, será que o Brasil sentiu frio? Diz a História que os índios comeram o bispo Sardinha. Mas como foi que eles conseguiram abrir a latinha? Qual o mais velho, diga num segundo: D. Pedro I ou D. Pedro II? De que cor era mesmo (eu nunca decoro) o cavalo branco do Marechal Deodoro?

Por José Paulo Paes

a poesia está morta mas juro que não fui eu eu até que tentei fazer o melhor que podia para salvá-la imitei diligentemente augusto dos anjos paulo torres carlos drummond de andrade manuel bandeira murilo mendes vladmir maiakóvski joão cabral de melo neto paul éluard oswald de andrade guillaume appolinaire sosígenes costa bertolt brecht augusto de campos não adiantou nada em desespero de causa cheguei a imitar um certo (ou incerto) josé paulo paes poeta de ribeirãozinho estrada de ferro araraquarense porém ribeirãozinho mudou de nome a estrada de ferro araraquarense foi extinta e josé paulo paes parece nunca ter existido nem eu (Poema "Acima de qualquer suspeita")

Por José Paulo Paes

Poética Não sei palavras dúbias. Meu sermão Chama ao lobo verdugo e ao cordeiro irmão. Com duas mãos fraternas, cumplicio A ilha prometida à proa do navio. A posse é-me aventura sem sentido. compreendo o pão se dividido. Não brinco de juiz, não me disfarço em réu. Aceito meu inferno, mas falo do meu céu

Por José Paulo Paes

A arara é uma ave rara pois o homem não pára de ir ao mato caçá-la para a pôr na sala em cima de um poleiro onde ela fica o dia inteiro fazendo escarcéu porque já não pode voar pelo céu. E se o homem não pára de caçar arara, hoje uma ave rara, ou a arara some ou então muda seu nome para arrara.

Por José Paulo Paes

MISTÉRIO DE AMOR É o beija-flor que beija a flor ou é a flor que beija o beija-flor?

Por José Paulo Paes

Sem a pequena morte de toda noite como sobreviver a vida de cada dia?

Por José Paulo Paes

Poesia é... brincar com as palavras como se brinca com bola, papagaio, pião. Só que bola, papagaio, pião de tanto brincar se gastam. As palavras não: Quanto mais se brinca com elas, mais novas ficam. Como a água do rio que é água sempre nova. Como cada dia que é sempre um novo dia. Vamos brincar de poesia?

Por José Paulo Paes

neste lugar solitário o homem toda a manhã tem o porte estatuário de um pensador de Rodin neste lugar solitário extravasa sem sursis como um confessionário o mais íntimo de si neste lugar solitário arúspice desentranha o aflito vocabulário de suas próprias entranhas neste lugar solitário faz a conta doída: em lançamentos diários a soma de sua vida

Por José Paulo Paes

Declaração de bens meu deus minha pátria minha família minha casa meu clube meu carro minha mulher minha escova de dentes meus calos minha vida meu câncer meus vermes

Por José Paulo Paes

partido: o que partiu rumo ao futuro mas no caminho esqueceu a razão da partida (só perdemos a viagem camaradas não a estrada nem a vida)

Por José Paulo Paes

Eu vi um ângulo obtuso Ficar inteligente E a boca da noite Palitar os dentes. Vi um braço de mar Coçando o sovaco E também dois tatus Jogando buraco. Eu vi um nó cego Andando de bengala E vi uma andorinha Arrumando a mala. Vi um pé de vento Calçar as botinas E o seu cavalo-motor Sacudir as crinas. Vi uma mosca entrando Em boca fechada E um beco sem saída Que não tinha entrada. É a pura verdade, A mais nem um til, E tudo aconteceu Num primeiro de abril.

Por José Paulo Paes

Um homem que se preocupava demais com coisas sem importância acabou ficando com a cabeça cheia de minhocas. Um amigo lhe deu então a ideia de usar as minhocas numa pescaria para se distrair das preocupações. O homem se distraiu tanto pescando que sua cabeça ficou leve como um balão e foi subindo pelo ar até sumir nas nuvens. Onde será que foi parar? Não sei nem quero me preocupar com isso. Vou mais é pescar.

Por José Paulo Paes

não era esta a independência que eu sonhava não era esta a república que eu sonhava não era este o socialismo que eu sonhava não era este o apocalipse que eu sonhava

Por José Paulo Paes

Ficção científica Depois de uma viagem Pelo espaço sideral, O astronauta chegou Ao seu destino final: Um planeta diferente Cujo em cima ficava embaixo E o atrás ficava na frente. Um planeta tão estranho Que a sujeira era limpa E a água tomava banho Um planeta mesmo louco Onde o muito era nada E o tudo muito pouco Um planeta dos mais raros O seu ouro era de graça, O lixo custava caro. O astronauta não gostou E foi-se embora. Quando Pensou estar muito longe Viu-se outra vez chegando Num planeta onde, aliás, O embaixo ficava em cima E a frente ficava por trás...

Por José Paulo Paes

SALDO a torneira seca (mas pior: a falta de sede) a luz apagada (mas pior: o gosto do escuro) a porta fechada (mas pior: a chave por dentro)

Por José Paulo Paes

À tinta de escrever Ao teu azul fidalgo mortifica registrar a notícia, escrever o bilhete, assinar a promissória esses filhos do momento. Sonhas mais duradouro o pergaminho onde pudesses, arte longa em vida breve inscrever, vitríolo o epigrama, lágrima a elegia, bronze a epopeia. Mas já que o duradouro de hoje nem espera a tinta do jornal secar, firma, azul, a tua promissória ao minuto e adeus que agora é tudo História.

Por José Paulo Paes

Portuguesa – Manuel, quando é "agora"? – Ora, pois pois; depois do antes ou antes do depois!

Por José Paulo Paes

Se esta rua fosse minha, eu mandava ladrilhar, não para automóveis matar gente, mas para criança brincar. Se esta mata fosse minha, eu não deixava derrubar. Se cortarem todas as árvores, onde é que os pássaros vão morar? Se este rio fosse meu, eu não deixava poluir. Joguem esgotos noutra parte, que os peixes moram aqui. Se este mundo fosse meu, Eu fazia tantas mudanças Que ele seria um paraíso De bichos, plantas e crianças.

Por José Paulo Paes

Cemitério Aqui jaz um leão chamado Augusto. Deu um urro tão forte, mas um urro tão forte, que morreu de susto. Aqui jaz uma pulga chamada Cida. Desgostosa da vida, tomou inseticida: Era uma pulga suiCida. Aqui jaz um morcego que morreu de amor por outro morcego. Desse amor arrenego: amor cego, o de morcego! Neste túmulo vazio jaz um bicho sem nome. Bicho mais impróprio! tinha tanta fome, que comeu-se a si próprio

Por José Paulo Paes