Frases e palavras de impacto de Jarid Arraes!

duas cadeiras conte para mim sobre como tudo anda difícil e nem a cerveja se paga e nem a escrita se cria me conte sobre os imprevistos e as curvas fechadas sobre os livros abandonados as exposições vazias de significado me fale sobre a rotina que esmaga com as palavras que sempre as mesmas se usa e sobre a cidade cinza os rios espumantes o quilo de sal caro que se come me conte sobre as temperaturas altas e os corações apáticos sobre as relações de supermercado os produtos políticos eu quero ouvir sobre as pequenas vidas os pequenos instantes de vida que ainda resistem aí

Por Jarid Arraes

O Cordel da Amizade Como duas mãos se tocam No encaixe do momento Chega a parecer destino Um tamanho sentimento De uma pessoa aqui Que encontra outra ali Sentindo pertencimento. Os olhos da amizade Descortinam muito além Que só na sinceridade Sabe lhe enxergar também O amigo que te ama Nunca que ele te engana Nem te entrega pra ninguém. Não se faz de esquecida A memória da amizade Sobre as linhas tracejadas Que separam as cidades Seja numa tela escrita Ou na lágrima escorrida Inda vive uma saudade. Se o céu cair inteiro Tudo sendo escuridão E o joelho fraquejar Temeroso do trovão Eu te digo o que persiste E em encorajar insiste: O amigo em prontidão. Amizade é coisa linda Pode vir de toda forma Não conhece preconceito Ao chamado não demora Não se cala na defesa Mesmo que não saia ilesa Regenera, se transforma. É feroz, é bem mansinha Maternal e protetora Chama pra beber cerveja Colorida e instrutora A beleza da amizade Está na diversidade Disso é uma escritora No entanto, escute bem O que mais é relevante Que você jamais esqueça De quem é mais importante O maior, melhor amigo É o que já está contigo: Do teu peito é habitante.

Por Jarid Arraes

minhas paredes desabaram – só se ouviu o som – oitocentos reais de tijolos cimento azulejos rejunte branco – as paredes foram desabando – como todos os grandes muros políticos protetivos cativos coloridos mijados – onde se escoram os cansados – minhas paredes cumpriram seu tempo

Por Jarid Arraes

nunca mais trago o amor os dias de volta as cartas sobre a mesa nunca mais o poste o papel colado a cuspe e lágrima passam as folhas as palavras passam entre concreto e bitucas de cigarro os passos vão de encontro ao passado os muros repetem meia volta nunca mais três dias e ao acaso o som dos saltos e os buracos nunca mais trago o amor os punhos erguidos os cartazes sobre o ventre livre passam os muros as folhas caem e secam tristes

Por Jarid Arraes

há um dia em que a mulher pergunta a si mesma pergunta para outra mulher e as perguntas pairam flutuam sobre a cabeça as perguntas incomodam e vazam como excremento de aves de árvores de céu nesse dia a mulher procura a resposta por que de que adianta se há mãos que fazem dançar as cordas e os pequenos membros do corpo vivem em sacolejo o ventre morre em liminares gestações que formam mãos de homens e a partir do ventre as mãos nutridas pela mulher saem na direção do mundo de tudo que é externo de tudo que é global antropológico fágico e social e a mulher nesse dia pergunta para outra mulher para o espelho de que isso tudo adianta

Por Jarid Arraes

dizem que são necessários trinta dias para que um novo hábito se torne rotina dizem que o problema é a gordura que o açúcar refinado na verdade que todo açúcar que as frutas também tudo faz mal e dizem que yoga e pilates exposições gatos cães pássaros livres e nadar com os golfinhos não a natureza se desequilibra assim como bambeamos movidos a ansiolíticos e cafeína até mesmo os que dizem que a meditação os parques as longas caminhadas na praia a água de coco o óleo de macadâmias as escovas elétricas e o chás feitos das ervas tiradas do chão fazem bem até mesmo os que dizem que todas as religiões que a tolerância o ecumenismo as missas de sétimo dia as velas os filmes nacionais os editais o apoio do governo a importância dos movimentos sociais até mesmo os que dizem que a indústria o consumo as leis a punição até os que sentem pena até eles dizem que trinta dias passam mas não habituam a vida em quem de nada faz questão

Por Jarid Arraes

há sempre um mar invisível despejado a conta-gotas pingando nos olhos de quem sofre o sal que queima a retina e as veias violentas ondas de miséria só quem sofre [por amor] pode saber as algas presas aos meus cabelos e o sempre-mar na ressaca dos meus olhos

Por Jarid Arraes

desejo um mundo em que seja fácil ser só em que os porteiros não deem bom-dia boa-tarde não me olhem boa-noite um mundo em que a farmácia seja um de cada vez sem os toques dos corredores sem o deseja a revista apoiar as crianças o câncer moedinhas aqui já tem cadastro fidelidade senhora sem tempo para sorrir sem graça não obrigada desejo um mundo vazio de amenidades feito de explosões terremotos tufos de cabelo terra nos olhos um mundo desmesurado todo mato algumas cabras latas vazias um mundo sem frutas sem matérias reportagens sobre colesterol glicose taquicardia desejo um mundo sem filosofia animalesco cheio de pelos as garras afiadas visão noturna instinto de fuga desejo um mundo do qual eu possa fugir

Por Jarid Arraes

feito gato atiçado por todo meneio rápido eu também sou atraída pelos insetos que se atiram contra a luz essa é a utilidade e o fim das asas

Por Jarid Arraes

saí para a varanda aos 14 graus da tarde sem blusas viria a primavera as roupas leves – mas meu peito é pesado e quente dentro de mim não faz brisa é sempre mormaço

Por Jarid Arraes