Frases e palavras de impacto de Fernando Echevarría!

Lentos nos fomos esquecendo. Quando o tempo da velhice nos foi vindo a tez apareceu amorenada de anos e afeita ao espírito. A lavoura sabia aos nossos passos. Até os desperdícios iluminavam debilmente o armário e a penumbra dos rincões escritos. Mas nós só estávamos em nos havermos esquecido. Ou, às vezes, a aura do trabalho quase fazia com que na mesa o sítio aparecesse coroado de anos sobre a mão a mover-se pelo seu próprio espírito.

Por Fernando Echevarría

Os vivos ouvem poucamente. As plantas, como o elemento aquático domina, são dadas à conversa. A menor brisa abala a urna de concórdia estremecida que, assim, sensível, se derrama e é solidão solícita. Os vivos não ouvem nada. Mas, havendo acedido a essa malícia de experiência cândida, os mortos deixam que o ouvido siga o fluvial diálogo das plantas umas com outras e todas com a brisa. Melhor ainda. Quando, nas noites cálidas, as plantas se sentem mais sozinhas, os mortos brincam à imitação das águas inventando palavras de consonâncias líquidas. E esse amoroso cuidado de palavras a urna de concórdia vegetal espevita até que, a horas altas, a noite, os mortos e as plantas caiam no sono duma luz solícita.

Por Fernando Echevarría

Se em nós a solidão viver sozinha, sem que nada em nós próprios a perturbe, cada figura passará rainha na antiguidade súbita da urbe. Um acento de pena irá na linha vincar a eternidade de figura a um rosto que quase só caminha para dentro de o vermos pela pura substância em si que vive a solidão dentro de nós. E sendo nós só margem do seu reino de ver por onde vão as figuras passando na paisagem de um antigo fulgor de coração aonde passam desde sempre. E agem.

Por Fernando Echevarría

A velhice é um vento que nos toma no seu halo feliz de ensombramento. E em nós depõe do que se deu à obra somente o modo de não sentir o tempo, senão no ritmo interior de a sombra passar à transparência do momento. Mas um momento de que baniram horas o hábito e o jeito de estar vendo para muito mais longe. Para de onde a obra surde. E a velhice nos ilumina o vento.

Por Fernando Echevarría

Felizes. Porque, ao fundo de si mesmos, cheios andam de quanto vão pensando. E, disso cheios, nada mais sabem. Dão para aquele lado onde o mundo acabou, mas resta o eco de o haverem pensado até ao cabo e irem agora criar o movimento que subsiste no tempo de o mundo ainda estar a ser criado. Por isso são felizes. Foram sendo até, perdido o tempo, só em memória o estarem habitando.

Por Fernando Echevarría

Com a altura da idade a casa se acrescenta. Não é que aumente a quantidade ao espaço. Mas, sendo mais longínquos, o desapego pensa maior distância quando se fica a olhá-lo. Ou, se quiserem, uma realeza se instala à volta dessa altura de anos, de forma a que os objectos apareçam na luz de quase já nem os amarmos. Então a casa distende-se na intensa inteligência de estarmos a ver as coisas amarem-se a si mesmas. Ou com a forma a difundir seu espaço.

Por Fernando Echevarría

A solidão é sempre fundamento da liberdade. Mas também do espaço por onde se desenvolve o alargar do tempo à volta da atenção estrita do acto. Húmus, e alma, é a solidão. E vento, quando da imóvel solenidade clama o mudo susto do grito, ainda suspenso do nome que vai ser sua prisão pensada. A menos que esse nome seja estremecimento — fruto de solidão compenetrada que, por dentro da sombra, nomeia o movimento de cada corpo entrando por sua luz sagrada.

Por Fernando Echevarría

O TEMPO VIVE O tempo vive, quando os homens, nele, se esquecem de si mesmos, ficando, embora, a contemplar o estreme reduto de estar sendo. O tempo vive a refrescar a sede dos animais e do vento, quando a estrutura estremece a dura escuridão que, desde dentro, irrompe. E fica com o uivo agreste espantando o seu estrondo de silêncio.

Por Fernando Echevarría

AMOR À VISTA Entras como um punhal até à minha vida. Rasgas de estrelas e de sal a carne da ferida. Instala-te nas minas. Dinamita e devora. Porque quem assassinas é um monstro de lágrimas que adora. Dá-me um beijo ou a morte. Anda. Avança. Deixa lá a esperança para quem a suporte. Mas o mar e os montes... isso, sim. Não te amedrontes. Atira-os sobre mim. Atira-os de espada. Porque ficas vencida ou desta minha vida não fica nada. Mar e montes teus beijos, meu amor, sobre os meus férreos dentes. Mar e montes esperados com terror de que te ausentes. Mar e montes teus beijos, meu amor!...

Por Fernando Echevarría