Frases e palavras de impacto de Fagundes Varela!

⁠VOZ DO POETA Perdão, Senhor meu Deus! Busco-te embalde Na natureza inteira! O dia, a noite, O tempo, as estações mudos sucedem-se, Mas eu sinto-te o sopro dentro dalma! Da consciência ao fundo te contemplo! E movo-me por ti, por ti respiro, Ouço-te a voz que o cérebro me anima, E em ti me alegro, e canto, e penso! Da natureza inteira que aviventas Todos os elos a teu ser se prendem, Tudo parte de ti e a ti se volta; Presente em toda a parte, e em parte alguma, Íntima fibra, espírito infinito, Moves potente a criação inteira! Dás a vida e a morte, o olvido e a glória! Se não posso adorar-te face a face, Oh! basta-me sentir-te sempre, e sempre! Eu creio em ti! eu sofro, e o sofrimento Como ligeira nuvem se esvaece Quando murmuro teu sagrado nome! Eu creio em ti! e vejo além dos mundos, Minha essência imortal brilhante e livre, Longe dos erros, perto da verdade, Branca dessa brancura imaculada Que os gênios inspirados nesta vida Em vão tentaram descobrir no mármore!

Por Fagundes Varela

Adeus!Adeus! A estrela matutina Pelos clarões da aurora deslumbrada Apaga-se no espaço, A névoa desce sobre os campos úmidos, Erguem-se as flores trêmulas de orvalho Dos vales no regaço. Tu não mais ouvirás os doces versos Que nas várzeas viçosas eu compunha, Ou junto das torrentes; Nem teus cabelos mais verás ornados, Como a pagã formosa, de grinaldas De flores rescendentes.

Por Fagundes Varela

Desde a quadra a mais antiga de que rezam pergaminhos, cantam a mesma cantiga na floresta os passarinhos

Por Fagundes Varela

O que eu adoro em ti, ouve, é tu'alma, pura como o sorrir de uma criança, alheia ao mundo, alheia aos preconceitos, rica de crenças, rica de esperança.

Por Fagundes Varela

A mais tremenda das armas, Pior que a durindana, Atendei, meus bons amigos: Se apelida: - a língua humana!

Por Fagundes Varela

Pelas tranças da mãe-d’água Que junto da fonte está, Pelos colibris que brincam Nas alvas plumas do ubá, Pelos cravos desenhados Na flor do maracujá … Não se enojem teus ouvidos De tantas rimas em - a - Mas ouve meus juramentos, Meus cantos ouve, sinhá! Te peço pelos mistérios Da flor do maracujá!

Por Fagundes Varela

"O que eu adoro em ti não são teus olhos, teus lindos olhos cheios de mistério, por cujo brilho os homens deixariam da terra inteira o mais soberbo império. O que eu adoro em ti não são teus lábios, onde perpétua juventude mora, e encerram mais perfumes do que os vales por entre as pompas festivais da aurora. O que eu adoro em ti não é teu rosto perante o qual o marmor descorara, e ao contemplar a esplêndida harmonia Fídias, o mestre, seu cinzel quebrara. O que eu adoro em ti não é teu colo, mais belo que o da esposa israelita, torre de graças, encantado asilo, aonde o gênio das paixões habita. O que eu adoro em ti não são teus seios, alvas pombinhas que dormindo gemem, e do indiscreto vôo duma abelha cheias de medo em seu abrigo tremem. O que eu adoro em ti, ouve, é tu'alma, pura como o sorrir de uma criança, alheia ao mundo, alheia aos preconceitos, rica de crenças, rica de esperança. São as palavras de bondade infinda que sabes murmurar aos que padecem, os carinhos ingênuos de teus olhos onde celestes gozos transparecem!... Um não sei quê de grande, imaculado, que faz-me estremecer quando tu falas, e eleva-me o pensar além dos mundos quando, abaixando as pálpebras, te calas. E por isso em meus sonhos sempre vi-te entre nuvens de incenso em aras santas, e das turbas solícitas no meio também contrito hei-te beijado as plantas. E como és linda assim! Chamas divinas cercam-te as faces plácidas e belas, um longo manto pende-te dos ombros salpicado de nítidas estrelas! Na doida pira de um amor terrestre pensei sagrar-te o coração demente... Mas ao mirar-te deslumbrou-me o raio... tinhas nos olhos o perdão somente!".

Por Fagundes Varela

TRISTEZA Minh’alma é como o deserto De dúbia areia coberto, Batido pelo tufão; É como a rocha isolada, Pelas espumas banhada, Dos mares na solidão. Nem uma luz de esperança, Nem um sopro de bonança Na fronte sinto passar! Os invernos me despiram E as ilusões que fugiram Nunca mais hão de voltar! Roem-me atrozes idéias, A febre me queima as veias; A vertigem me tortura!… Oh! por Deus! quero dormir, Deixem-me os braços abrir Ao sono da sepultura! Despem-se as matas frondosas, Caem as flores mimosas Da morte na palidez, Tudo, tudo vai passando… Mas eu pergunto chorando: Quando virá minha vez? Vem, oh virgem descorada, Com a fronte pálida ornada De cipreste funerário, Vem! oh! quero nos meus braços Cerrar-te em meigos abraços Sobre o leito mortuário! Vem, oh morte! a turba imunda Em sua miséria profunda Te odeia, te calunia… – Pobre noiva tão formosa Que nos espera amorosa No termo da romaria. Quero morrer, que este mundo Com seu sarcasmo profundo Manchou-me de lodo e fel, Porque meu seio gastou-se, Meu talento evaporou-se Dos martírios ao tropel! Quero morrer: não é crime O fardo que me comprime Dos ombros lançar ao chão, Do pó desprender-me rindo E as asas brancas abrindo Lançar-me pela amplidão! Oh! quantas louras crianças Coroadas de esperanças Descem da campa à friez!… Os vivos vão repousando; Mas eu pergunto chorando: – Quando virá minha vez? Minh’alma é triste, pendida, Como a palmeira batida Pela fúria do tufão. É como a praia que alveja, Como a planta que viceja Nos muros de uma prisão! S. Paulo – 1861.⁠

Por Fagundes Varela

A MULHER (A C…) A mulher sem amor é como o inverno, Como a luz das antélias no deserto, Como espinheiro de isoladas fragas, Como das ondas o caminho incerto. A mulher sem amor é mancenilha Das ermas plagas sobre o chão crescida, Basta-lhe à sombra repousar um’hora Que seu veneno nos corrompe a vida. De eivado seio no profundo abismo Paixões repousam num sudário eterno… Não há canto nem flor, não há perfumes, A mulher sem amor é como o inverno. Su’alma é um alaúde desmontado Onde embalde o cantor procura um hino; Flor sem aromas, sensitiva morta, Batel nas ondas a vagar sem tino. Mas, se um raio do sol tremendo deixa Do céu nublado a condensada treva, A mulher amorosa é mais que um anjo, É um sopro de Deus que tudo eleva! Como o árabe ardente e sequioso Que a tenda deixa pela noite escura E vai no seio de orvalhado lírio Lamber a medo a divinal frescura, O poeta a venera no silêncio, Bebe o pranto celeste que ela chora, Ouve-lhe os cantos, lhe perfuma a vida… – A mulher amorosa é como a aurora. S. Paulo – 1861⁠

Por Fagundes Varela

Serão os gênios da tarde Que passam sobre as campinas, Cingido o colo de opalas E a cabeça de neblinas, E fogem, nas harpas de ouro Mensagens a dedilhar? São os sabiás que cantam... Não vês o sol declinar? Ou serão talvez as preces De algum sonhador proscrito, Que vagueia nos desertos, Pedindo a Deus um consolo Que o mundo não pode dar?

Por Fagundes Varela

⁠ Quem és tu, pobre vivente, Que vagas triste e sozinho, Que tens os raios da estrela, E as asas do passarinho? A noite é negra; raivosos Os ventos correm do sul; Não temes que eles te apaguem A tua lanterna azul? Quando tu passas, o lago De estranhos fogos esplende, Dobra-se a clícia amorosa, E a fronte mimosa pende. As folhas brilham, lustrosas, Como espelhos de esmeralda; Fulge o iris nas torrentes Da serrania na fralda. O grilo salta das sarças; Piam aves nos palmares; Começa o baile dos silfos No seio dos nenufares. A tribo das mariposas, Das mariposas azuis, Segue teus giros no espaço, Mimosa gota de luz! São elas flores sem haste; Tu és estrela sem céu; Procuram elas as chamas; Tu amas da sombra o véu! Quem és tu, pobre vivente, Que vagueias tão sozinho, Que tens os raios da estrela, E as asas do passarinho?

Por Fagundes Varela

Cântico do Calvário - À memória de meu Filho morto a 11 de dezembro de 1863 Eras na vida a pomba predileta Que sobre um mar de angústias conduzia O ramo da esperança. Eras a estrela Que entre as névoas do inverno cintilava Apontando o caminho ao pegureiro. Eras a messe de um dourado estio. Eras o idílio de um amor sublime. Eras a glória, a inspiração, a pátria, O porvir de teu pai! - Ah! no entanto, Pomba, - varou-te a flecha do destino! Astro, - engoliu-te o temporal do norte! Teto, - caíste!- Crença, já não vives! Correi, correi, oh! lágrimas saudosas, Legado acerbo da ventura extinta, Dúbios archotes que a tremer clareiam A lousa fria de um sonhar que é morto!

Por Fagundes Varela

A Flor do Maracujá ⁠ Pelas rosas, pelos lírios, Pelas abelhas, sinhá, Pelas notas mais chorosas Do canto do sabiá, Pelo cálice de angústias Da flor do maracujá! Pelo jasmim, pelo goivo, Pelo agreste manacá, Pelas gotas do sereno Nas folhas de gravatá, Pela coroa de espinhos Da flor do maracujá! Pelas tranças da mãe-d'água Que junto da fonte está, Pelos colibris que brincam Nas alvas plumas do ubá, Pelos cravos desenhados Na flor do maracujá! Pelas azuis borboletas Que descem do Panamá, Pelos tesouros ocultos Nas minas do Sincorá, Pelas chagas roxeadas Da flor do maracujá! Pelo mar, pelo deserto, Pelas montanhas, sinhá! Pelas florestas imensas Que falam de Jeová! Pela lança ensanguentada Da flor do maracujá! Por tudo o que o céu revela! Por tudo o que a terra dá Eu te juro que minh'alma De tua alma escrava está!... Guarda contigo esse emblema Da flor do maracujá! Não se enojem teus ouvidos De tantas rimas em — a — Mas ouve meus juramentos, Meus cantos ouve, sinhá! Te peço pelos mistérios Da flor do maracujá!

Por Fagundes Varela

Por tudo que o céu revela, por tudo o que a terra dá, eu te juro que minh'alma de tua escrava está!... Guarda contigo este emblema da flor do maracujá!

Por Fagundes Varela