CADELA ROSADA [Rio de Janeiro] Sol forte, céu azul. O Rio sua. Praia apinhada de barracas. Nua, passo apressado, você cruza a rua. Nunca vi um cão tão nu, tão sem nada, sem pêlo, pele tão avermelhada... Quem a vê até troca de calçada. Têm medo da raiva. Mas isso não é hidrofobia — é sarna. O olhar é são e esperto. E os seus filhotes, onde estão? (Tetas cheias de leite.) Em que favela você os escondeu, em que ruela, pra viver sua vida de cadela? Você não sabia? Deu no jornal: pra resolver o problema social, estão jogando os mendigos num canal. E não são só pedintes os lançados no rio da Guarda: idiotas, aleijados, vagabundos, alcoólatras, drogados. Se fazem isso com gente, os estúpidos, com pernetas ou bípedes, sem escrúpulos, o que não fariam com um quadrúpede? A piada mais contada hoje em dia é que os mendigos, em vez de comida, andam comprando bóias salva-vidas. Você, no estado em que está, com esses peitos, jogada no rio, afundava feito parafuso. Falando sério, o jeito mesmo é vestir alguma fantasia. Não dá pra você ficar por aí à toa com essa cara. Você devia pôr uma máscara qualquer. Que tal? Até a quarta-feira, é Carnaval! Dance um samba! Abaixo o baixo-astral! Dizem que o Carnaval está acabando, culpa do rádio, dos americanos... Dizem a mesma bobagem todo ano. O Carnaval está cada vez melhor! Agora, um cão pelado é mesmo um horror... Vamos, se fantasie! A-lá-lá-ô...!
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