Frases e palavras de impacto de Carlos de Assumpção!

PRESENÇA É Zum É Zum É Zum É Zumbi Zumbi de Ogum Guerreiro de Ogum Aqui Na praça na raça Na reza fumaça De incenso no ar No canto de encanto Na fala na sala Na rua na lua Na vida de cada dia Em todo lugar É Zum É Zum É Zum É Zumbi Zumbi de Ogum Guerreiro de Ogum Aqui rabo-de-arraia No aço do braço No samba de samba No bumba-meu-boi No bombo do jongo Congada batuque Maracatu Zumbi Zumbi Zumbi Guerreiro da Serra Sob as estrelas acesas Na madrugada Nó do ebó na encruzilhada É Zum É Zum É Zum É Zumbi Zumbi de Ogum Guerreiro de Ogum Aqui

Por Carlos de Assumpção

Mãe Noite, Os anos já pintaram de luar os teus cabelos, No entanto, tudo parece estar acontecendo agora, Neste instante. Noite, Após tantos anos, Neste momento, Vejo tudo diante de mim, Como se estivesse assistindo a um filme Da infância: Nós, teus filhos, todos pequenos, O relógio parado na hora de privações, Tantos sonhos de asas quebradas pelos cantos De nossa casa pobre, sem conforto; Tu, mulher ainda jovem, tão boa, tão calma, Constelação de esperança e ternura, Inspirando segurança, Inspirando fé, amor, Em meio a tantos vendavais. Noite, Tua luta foi para nós teu maior ensinamento Sofrias (hoje o sei), entretanto, Em nossa presença, nunca uma lágrima Rolou pelo teu rosto. Noite, Desde criança aprendi a amar-te, Mas só hoje, adulto, é que vejo, comovido, As incontáveis estrelas que brilham em teu ser E que tantos vendavais não conseguiram apagar.

Por Carlos de Assumpção

Protesto Mesmo que voltem as costas Às minhas palavras de fogo Não pararei de gritar Não pararei Não pararei de gritar Senhores Eu fui enviado ao mundo Para protestar Mentiras ouropéis nada Nada me fará calar Senhores Atrás do muro da noite Sem que ninguém o perceba Muitos dos meus ancestrais Já mortos há muito tempo Reúnem-se em minha casa E nos pomos a conversar Sobre coisas amargas Sobre grilhões e correntes Que no passado eram visíveis Sobre grilhões e correntes Que no presente são invisíveis Invisíveis mas existentes Nos braços no pensamento Nos passos nos sonhos na vida De cada um dos que vivem Juntos comigo enjeitados da Pátria Senhores O sangue dos meus avós Que corre nas minhas veias São gritos de rebeldia Um dia talvez alguém perguntará Comovido ante meu sofrimento Quem é que esta gritando Quem é que lamenta assim Quem é E eu responderei Sou eu irmão Irmão tu me desconheces Sou eu aquele que se tornara Vitima dos homens Sou eu aquele que sendo homem Foi vendido pelos homens Em leilões em praça pública Que foi vendido ou trocado Como instrumento qualquer Sou eu aquele que plantara Os canaviais e cafezais E os regou com suor e sangue Aquele que sustentou Sobre os ombros negros e fortes O progresso do País O que sofrera mil torturas O que chorara inutilmente O que dera tudo o que tinha E hoje em dia não tem nada Mas hoje grito não é Pelo que já se passou Que se passou é passado Meu coração já perdoou Hoje grito meu irmão É porque depois de tudo A justiça não chegou Sou eu quem grita sou eu O enganado no passado Preterido no presente Sou eu quem grita sou eu Sou eu meu irmão aquele Que viveu na prisão Que trabalhou na prisão Que sofreu na prisão Para que fosse construído O alicerce da nação O alicerce da nação Tem as pedras dos meus braços Tem a cal das minhas lágrima Por isso a nação é triste É muito grande mas triste É entre tanta gente triste Irmão sou eu o mais triste A minha história é contada Com tintas de amargura Um dia sob ovações e rosas de alegria Jogaram-me de repente Da prisão em que me achava Para uma prisão mais ampla Foi um cavalo de Tróia A liberdade que me deram Havia serpentes futuras Sob o manto do entusiasmo Um dia jogaram-me de repente Como bagaços de cana Como palhas de café Como coisa imprestável Que não servia mais pra nada Um dia jogaram-me de repente Nas sarjetas da rua do desamparo Sob ovações e rosas de alegria Sempre sonhara com a liberdade Mas a liberdade que me deram Foi mais ilusão que liberdade Irmão sou eu quem grita Eu tenho fortes razões Irmão sou eu quem grita Tenho mais necessidade De gritar que de respirar Mas irmão fica sabendo Piedade não é o que eu quero Piedade não me interessa Os fracos pedem piedade Eu quero coisa melhor Eu não quero mais viver No porão da sociedade Não quero ser marginal Quero entrar em toda parte Quero ser bem recebido Basta de humilhações Minh'alma já está cansada Eu quero o sol que é de todos Ou alcanço tudo o que eu quero Ou gritarei a noite inteira Como gritam os vulcões Como gritam os vendavais Como grita o mar E nem a morte terá força Para me fazer calar.

Por Carlos de Assumpção

Raízes Estou de volta pra casa Estou de volta a meu lar A vida aqui tem sentido Aqui é que é meu lugar Oxum passeia na praça Xangô conversa no bar Hoje de volta pra casa Convivo com os Orixás Estou de volta pra casa Aqui tudo é natural Té felicidade é fruto Que se consegue alcançar Enfim reencontro a fonte Donde axé jorrando está Estou de volta pra casa Estou de volta a meu lar A vida aqui tem sentido Aqui é que é meu lugar Aqui tem congada samba Batuque pra se dançar Tem mulheres lindas lindas Lindas feito Iemanjá Mulheres de largas ancas E doce encanto no olhar Estou de volta pra casa Estou de volta a meu lar A vida aqui tem sentido Aqui é que é meu lugar Agora livre de abismo Livre pássaro a voar Aqui tenho vida plena Com a benção dos Orixás Estou de volta pra casa Estou de volta a meu lar Hoje vivo como vive Caracol no meu quintal

Por Carlos de Assumpção

Arco-íris Nós somos Dons Quixotes Em cavalos de sonho vamos Por toda parte da cidade Semeando palavras como sementes Dividindo o pão do bem mostrando caminhos Levando esperanças a quem não tem Nós somos Dons Quixotes não importa De sonhadores o mundo tem precisão A vida será céu quando todos os homens Trouxerem as estrelas aqui pro chão

Por Carlos de Assumpção

Indignação Minha vida minha vida É ilha de sofrimento Cercada de injustiça por todos os lados Meu irmão onde a saída Senão a força da rebeldia Vítima de perseguição Encurralado marginalizado Neste mundo neste mundo Que é meu mundo também Meu irmão tenho vontade De sair como um demente Gritando gritando pelos campos E ruas e praças das cidades Que é preciso urgentemente Limpar com papel higiênico A cara cristã da sociedade

Por Carlos de Assumpção

Eclipse Olho no espelho E não me vejo Não sou eu Quem lá está Senhores Onde estão os meus tambores Onde estão meus orixás Onde Olorum Onde o meu modo de viver Onde as minhas asas negras e belas Com que costumava voar Olho no espelho E não me vejo Não sou eu Quem lá está Senhores Quero de volta Os meus tambores Quero de volta Os meus orixás Quero de volta Meu Pai Olorum Em seu esplendor sem par Quero de volta O meu modo de viver Quero de volta As minhas asas negras e belas Com que costumava voar Olho no espelho E não me vejo Não sou eu Quem lá está Séculos de destruição Sobre os ombros cansados Estou eu a carregar Confuso sem norte sem rumo Perdido de mim mesmo Aqui neste lado do mar Um dia no entanto senhores Eu hei de me reencontrar.

Por Carlos de Assumpção