Frases e palavras de impacto de Bruna Mitrano!

na estrada de terra da cidade vazia a criança preta empunha um pedaço de pau. ela está nua e vê-se um corpo tão prematuro quanto ruínas. a boca intumescida da criança preta gutura morte ao rei! e na aridez inalcançável dos pés descalços resiste a criança tão criança e velha, sozinha e livre – o sino da igreja abandonada toca todo dia na hora errada.

Por Bruna Mitrano

firmava os pés no chão enquanto varria, mecanicamente, os cacos de vidro. era a primeira vez que não se arrependia dos gritos, do murro na porta, de mais um copo atirado contra a parede. estava sozinha, reconhecendo suas frustrações, a parcela de si não compartilhada, e já não lhe importava o lado de fora – algo haveria de se perder, sempre, no vácuo entre duas mãos sobrepostas. em minutos, um vizinho solidário invadiria sua sala e, com tiques de pardal, exploraria cada canto, procurando marcas da Louca, até finalmente perguntar tudo bem? e ela responder, sorrindo, que sim.

Por Bruna Mitrano

a impertinência da cura. arrancaram meus caninos, tenho as gengivas suturadas à mostra. de medo: tormenta [mãos de pólvora afagando o fogo]

Por Bruna Mitrano

gelo na língua: a cara lisa, lagrimando brasa, em riso esquizo cacarejento estala, essa dor do cão!

Por Bruna Mitrano

toda noite vem o homem vestido de branco e digo a ele é impossível domar a água I just sit on the ground in your way o homem vestido de branco anota a minha doença num papel.

Por Bruna Mitrano

ela pediu pra eu não enlouquecer parei de tomar os remédios pra tentar ser gente mas uma chuva forte caiu era janeiro e me escorreguei perdi o senso disseram é temporário os tremores noturnos a matriz de uma ânsia descabida os rostos na janela todas as noites os rostos que catequizam as janelas nas casas sem muro não há o que se ver que não sobrecarregue a carne o corpo ainda sente curva-se ao inevitável tomba no meio da rua e conclui não se dá as costas pra morte há sempre um diagnóstico preto no branco vou morrer de tempo ou vou fazer o quê? re:___________________.

Por Bruna Mitrano