Frases e palavras de impacto de Antonio Roberto Fernandes!

FELICIDADE Quando “eu era feliz e não sabia”, – como diz o poeta, na canção – aos meus desejos, sempre, com ironia, o meu destino respondia: não. E tudo o que eu sonhava, a cada dia, sempre ficava além da minha mão. Se era feliz quem tinha o que queria eu nunca pude ser feliz, então. Hoje, afogado na realidade, relembro a minha infância, com saudade, não por ter sido um tempo em que eu sonhei, mas porque, ainda envolto em fantasia, eu não era feliz e não sabia, como hoje não sou…mas hoje eu sei.

Por Antonio Roberto Fernandes

Mas... E eu que achei que a lua não brilhasse sobre os mortos no campo da guerrilha, sobre a relva que encobre a armadilha ou sobre o esconderijo da quadrilha, mas brilha. E achei que nenhum pássaro cantasse se um lavrador não mais colhe o que planta, se uma família vai dormir sem janta com um soluço preso na garganta, mas canta. Também pensei que a chuva não regasse a folha cujo leite queima e cega, a carnívora flor que o inseto pega ou o espinho oculto na macega, mas rega. Também pensei que o orvalho não beijasse a venenosa cobra que rasteja no silêncio da noite sertaneja, sobre as ruínas de esquecida igreja, mas beija. Imaginei que a água não lavasse o chicote que em sangue se deprava quando, de forma monstruosa e brava, abre trilhas de dor na pele escrava, mas lava. Apostei que nenhuma borboleta - por ser um vivo exemplo de esperança - dançaria contente, leve e mansa sobre o túmulo de uma criança, mas dança. E eu pensei que o sol não mais aquecesse os campos que a guerra empobrece, onde tomba do homem a própria espécie e a sombra da dor enlouquece, mas aquece. Por isso achei que eu não mais fizesse poema algum após tanto embaraço, tanta decepção, tanto cansaço e tanta espera, em vão, por teu abraço, mas faço.

Por Antonio Roberto Fernandes

OS PRATOS DE VOVÓ A minha avó guardava, com alegria, muitos pratos, lindíssimos, de louça que ganhou de presente, quando moça, e que esperava usar – quem sabe? – um dia. Mas a vida passando tão insossa e nada de importante acontecia e ninguém pra jantar aparecia que compensasse abrir o guarda-louça. Vovó morreu. Dos pratos coloridos que hoje estão quebrados e perdidos ela jamais usou sequer um só. Assim também meus sonhos, tão guardados, terão, por nunca serem realizados, o mesmo fim dos pratos de vovó.

Por Antonio Roberto Fernandes

SEM MEDIDA Quem diz que ama muito ou pouco, mente ou não conhece o amor, na realidade, pois não se mede o amor em quantidade, se ama ou não se ama, simplesmente. Quem ama, embora sonhe com a eternidade, ainda assim não sonha o suficiente e em nada modifica o amor que se sente, seja na dor ou na felicidade. Não há um meio olhar ou um meio beijo. Ninguém tem dez por cento de um desejo nem existe carícia desmedida. E o amor, sem ter tamanho, é tão profundo que podemos achá-lo num segundo ou procurá-lo, em vão, por toda vida.

Por Antonio Roberto Fernandes

AINDA Espero que você me ame ainda no dia em que bater à sua porta e lhe dizer que, agora, só me importa livrar-me, enfim, desta saudade infinda. E ver no seu olhar que me conforta e ouvir de sua boca doce e linda que esta minha presença foi bem-vinda, que sua casa ainda me comporta. Aí, então, num demorado beijo, terei pena de quem tem por desejo conquistar o dinheiro, a sorte, a fama, Pois nada terá tal encantamento do que, depois de tanto sofrimento, ouvir você dizer que ainda me ama.

Por Antonio Roberto Fernandes

NOSSAS MÃOS As tuas mãos tão belas, tão formosas. As tuas mãos afeitas aos carinhos. As minhas mãos tão feias, tão nervosas. As minhas mãos expostas aos espinhos. As tuas mãos me tocam por piedade. As minhas mãos te afagam, mas com medo. As tuas mãos são mãos pra eternidade. As minhas mãos são mãos de morrer cedo. As tuas mãos nas minhas, que contraste! Mas se não fossem elas, que desastre, nem sei das minhas mãos o que seria! Por isso às tuas mãos eu agradeço o carinho que eu sei que não mereço e que em outras mãos não acharia!

Por Antonio Roberto Fernandes