Afonso Cruz

Atos, Novo Testamento, AT, 2:40

Atos, AT, 2:40, Com muitas outras palavras deu testemunho e exortava-os, dizendo: - Salvem-se desta geração perversa.

Na manhã em que me levantei para começar este livro tossi. Algo estava a sair-me da garganta, a estrangular-me. Rasguei o cordão que o retinha e arranquei-o. Voltei para a cama e disse: Acabo de cuspir o coração. Existe um instrumento chamado quena que é feito de ossos humanos. Tem origem no culto que um índio dedicou à sua amante. Quando ela morreu ele fez dos seus ossos uma flauta. A quena tem um som mais penetrante, mais persistente do que a flauta vulgar. Aqueles que escrevem sabem o processo. Pensei nisto enquanto cuspia o coração. Só que eu não estou à espera da morte do meu amor.

Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem) Acendo o cigarro para adiar a viagem, Para adiar todas as viagens. Para adiar o universo inteiro. Volta amanhã, realidade! Basta por hoje, gentes! Adia-te, presente absoluto! Mais vale não ser que ser assim. Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro, E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito. Mas tenho que arrumar mala, Tenho por força que arrumar a mala, A mala. Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão. Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala. Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas, A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino. Tenho que arrumar a mala de ser. Tenho que existir a arrumar malas. A cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte. Olho para o lado, verifico que estou a dormir. Sei só que tenho que arrumar a mala, E que os desertos são grandes e tudo é deserto, E qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci. Ergo-me de repente todos os Césares. Vou definitivamente arrumar a mala. Arre, hei de arrumá-la e fechá-la; Hei de vê-la levar de aqui, Hei de existir independentemente dela. Grandes são os desertos e tudo é deserto, Salvo erro, naturalmente. Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado! Mais vale arrumar a mala. Fim.

⁠A guerra criava aliados bizarros, enquanto a própria paz pode ser divisiva.

Meu amor era verdadeiro O teu era pirata O meu amor era ouro E o teu não passava de um pedaço de lata Meu amor era rio E o teu não formava uma fina cascata O meu amor era de raça E o teu simplesmente um vira-lata

⁠Ela tinha esperança. E a esperança era perigosa. A esperança era o mal mais cruel de todos, a coisa que conseguira sobreviver na caixa de Pandora entre a miséria, a doença e a tristeza - e o que poderia resistir ao lado de outros com tais dentes se não tivesse suas próprias garras horríveis?

Sem mais pensamentos medidos por uma régua Faça o que quiser em vez do que é bom

Efésios, Novo Testamento, EF, 6:19

Efésios, EF, 6:19, E orem também por mim, para que, no abrir da minha boca, me seja dada a palavra, para com ousadia tornar conhecido o mistério do evangelho,

Neemias, Antigo Testamento, NE, 7:35

Neemias, NE, 7:35, Os filhos de Harim, trezentos e vinte.

Isaías, Antigo Testamento, IS, 3:20

Isaías, IS, 3:20, os turbantes, as correntinhas para os tornozelos, os cintos, as caixinhas de perfume e os amuletos;