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Doenças Muitas doenças que as pessoas têm são poemas presos abscessos tumores nódulos pedras são palavras calcificadas poemas sem vazão mesmo cravos pretos espinhas cabelo encravado prisão de ventre poderia um dia ter sido poema pessoas às vezes adoecem de gostar de palavra presa palavra boa é palavra líquida escorrendo em estado de lágrima lágrima é dor derretida dor endurecida é tumor lágrima é alegria derretida alegria endurecida é tumor lágrima é raiva derretida raiva endurecida é tumor lágrima é pessoa derretida pessoa endurecida é tumor tempo endurecido é tumor tempo derretido é poema palavra suor é melhor do que palavra cravo que é melhor do que palavra catarro que é melhor do que palavra bílis que é melhor do que palavra ferida que é melhor do que palavra nódulo que nem chega perto da palavra tumores internos palavra lágrima é melhor palavra é melhor é melhor poema

Por Viviane Mosé

Salmos, SL, 119:106, Jurei e confirmei o juramento de guardar os teus retos juízos.

Por Salmos, Antigo Testamento

Também perdi a mulher que amava, e não há um único dia em que não me sinta culpado. Mas temos nossos deveres, não é?

Por A Cozinheira de Castamar (série)

II Samuel, 2SM, 5:1, Então todas as tribos de Israel vieram a Davi, em Hebrom, e disseram: - Veja, somos do mesmo povo que o senhor, ó rei.

Por II Samuel, Antigo Testamento

O estilo nem por sombra corresponde a um simples culto da forma, mas, muito longe disso, a uma particular concepção da arte e, mais em geral, a uma particular concepção da vida.

Por Leon Tolstói

Os nossos verdadeiros prazeres consistem no livre uso de nós mesmos.

Por George Buffon

Não precisa morrer pra ver Deus, não precisa sofrer pra saber o que é melhor pra você.

Por Criolo

O que sabemos, saber que o sabemos. Aquilo que não sabemos, saber que não o sabemos: eis o verdadeiro saber.

Por Confúcio

⁠A liberdade é tão preciosa para alguns que elas pagam por ela com suas vidas.

Por Alice: Madness Returns

EU, ETIQUETA Em minha calça está grudado um nome que não é meu de batismo ou de cartório, um nome... estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida que jamais pus na boca, nesta vida. Em minha camiseta, a marca de cigarro que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produto que nunca experimentei mas são comunicados a meus pés. Meu tênis é proclama colorido de alguma coisa não provada por este provador de longa idade. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, minha gravata e cinto e escova e pente, meu copo, minha xícara, minha toalha de banho e sabonete, meu isso, meu aquilo, desde a cabeça ao bico dos sapatos, são mensagens, letras falantes, gritos visuais, ordens de uso, abuso, reincidência, costume, hábito, premência, indispensabilidade, e fazem de mim homem-anúncio itinerante, escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda. É duro andar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade, trocá-la por mil, açambarcando todas as marcas registradas, todos os logotipos do mercado. Com que inocência demito-me de ser eu que antes era e me sabia tão diverso de outros, tão mim mesmo, ser pensante, sentinte e solidário com outros seres diversos e conscientes de sua humana, invencível condição. Agora sou anúncio, ora vulgar ora bizarro, em língua nacional ou em qualquer língua (qualquer, principalmente). E nisto me comparo, tiro glória de minha anulação. Não sou - vê lá - anúncio contratado. Eu é que mimosamente pago para anunciar, para vender em bares festas praias pérgulas piscinas, e bem à vista exibo esta etiqueta global no corpo que desiste de ser veste e sandália de uma essência tão viva, independente, que moda ou suborno algum a compromete. Onde terei jogado fora meu gosto e capacidade de escolher, minhas idiossincrasias tão pessoais, tão minhas que no rosto se espelhavam e cada gesto, cada olhar cada vinco da roupa sou gravado de forma universal, saio da estamparia, não de casa, da vitrine me tiram, recolocam, objeto pulsante mas objeto que se oferece como signo de outros objetos estáticos, tarifados. Por me ostentar assim, tão orgulhoso de ser não eu, mas artigo industrial, peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente.

Por Carlos Drummond de Andrade