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Depois das 7 as montras são mais íntimas A vergonha de não comprar não existe e a tristeza de não ter é só nossa E a luz torna mais belo e mais útil cada objecto

Por António Reis (poeta)

Só me resta agora Esta graça triste De te haver esperado Adormecer primeiro. Ouço agora o rumor Das raízes da noite, Também o das formigas Imensas, numerosas, Que estão, todas, corroendo As rosas e as espigas. Sou um ramo seco Onde duas palavras Gorjeiam. Mais nada. E sei que já não ouves Estas vãs palavras. Um universo espesso Dói em mim com raízes De tristeza e alegria. Mas só lhe vejo a face Da noite e a do dia. Não te dei o desgosto De ter partido antes. Não te gelei o lábio Com o frio do meu rosto. O destino foi sábio: Entre a dor de quem parte E a maior — de quem fica — Deu-me a que, por mais longa, Eu não quisera dar-te. Que me importa saber Se por trás das estrelas haverá outros mundos Ou se cada uma delas É uma luz ou um charco? O universo, em arco, Cintila, alto e complexo. E em meio disso tudo E de todos os sóis, Diurnos, ou noturnos, Só uma coisa existe. É esta graça triste De te haver esperado Adormecer primeiro. É uma lápide negra Sobre a qual, dia e noite, Brilha uma chama verde

Por Cassiano Ricardo

Tenho medo de acabar me tornando uma dessas velhas bêbadas e roucas que ficam vadiando pela rua da amargura assediando rapazinhos...

Por Janis Joplin

⁠Acho que ele se esqueceu de crescer.

Por Dragon Ball Daima

Era um sujeito realmente distraído: na hora de dormir, beijou o relógio, deu corda no gato e enxotou a mulher pela janela.

Por Jô Soares

Mateus, MT, 14:32, Subindo ambos para o barco, o vento cessou.

Por Mateus, Novo Testamento

Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem) Acendo o cigarro para adiar a viagem, Para adiar todas as viagens. Para adiar o universo inteiro. Volta amanhã, realidade! Basta por hoje, gentes! Adia-te, presente absoluto! Mais vale não ser que ser assim. Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro, E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito. Mas tenho que arrumar mala, Tenho por força que arrumar a mala, A mala. Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão. Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala. Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas, A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino. Tenho que arrumar a mala de ser. Tenho que existir a arrumar malas. A cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte. Olho para o lado, verifico que estou a dormir. Sei só que tenho que arrumar a mala, E que os desertos são grandes e tudo é deserto, E qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci. Ergo-me de repente todos os Césares. Vou definitivamente arrumar a mala. Arre, hei de arrumá-la e fechá-la; Hei de vê-la levar de aqui, Hei de existir independentemente dela. Grandes são os desertos e tudo é deserto, Salvo erro, naturalmente. Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado! Mais vale arrumar a mala. Fim.

Por Álvaro de Campos

⁠Cantar só me dá saudade Eu vou embora pra minha cidade Saudade só me lembra dor

Por Afroito

Ele pegou a mão direita dela com a esquerda e colocou a outra na cintura dela, olhando-a como se ela fosse uma bomba que ainda não explodiu. Eles começaram a dançar.

Por Jo Beverley

E na hora do banho você chora, você desaba, põe para fora tudo aquilo que aguentou no dia. Na esperança que a água leve junto com ela todas as tristezas e mágoas acumuladas em ti.

Por Bárbara Flores