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Acordei negra na cor com branco de paz Acordei com manchas do mal de um mundo fugaz Acordei com peso a mais Acordei com peso desses fatos Acordei armada com esperança de outros atos Sonhei que nada tinha peso, mundo leve Onde o bom não era breve Nada era irrelevante não havia figurantes Nem se quer existia algo em processo Mas aí, acordei no inverso
Por Danna LisboaO rosto da mulher madura entrou na moldura de meus olhos. De repente, a surpreendo num banco olhando de soslaio, aguardando sua vez no balcão. Outras vezes ela passa por mim na rua entre os camelôs. Vezes outras a entrevejo no espelho de uma joalheria. A mulher madura, com seu rosto denso esculpido como o de uma atriz grega, tem qualquer coisa de Melina Mercouri ou de Anouke Aimé. Há uma serenidade nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante, faz muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda. A mulher madura nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe. O silêncio em torno de seus gestos tem algo do repouso da garça sobre o lago. Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as coisas, mas as envolvem ternamente. Sabem a distância entre seu corpo e o mundo. A mulher madura é assim: tem algo de orquídea que brota exclusiva de um tronco, inteira. Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs. A adolescente, com o brilho de seus cabelos, com essa irradiação que vem dos dentes e dos olhos, nos extasia. Mas a mulher madura tem um som de adágio em suas formas. E até no gozo ela soa com a profundidade de um violoncelo e a sutileza de um oboé sobre a campina do leito. A boca da mulher madura tem uma indizível sabedoria. Ela chorou na madrugada e abriu-se em opaco espanto. Ela conheceu a traição e ela mesma saiu sozinha para se deixar invadir pela dimensão de outros corpos. Por isto as suas mãos são líricas no drama e repõem no seu corpo um aprendizado da macia paina de setembro e abril. O corpo da mulher madura é um corpo que já tem história. Inscrições se fizeram em sua superfície. Seu corpo não é como na adolescência uma pura e agreste possibilidade. Ela conhece seus mecanismos, apalpa suas mensagens, decodifica as ameaças numa intimidade respeitosa. Sei que falo de uma certa mulher madura localizada numa classe social, e os mais politizados têm que ter condescendência e me entender. A maturidade também vem à mulher pobre, mas vem com tal violência que o verde se perverte e sobre os casebres e corpos tudo se reveste de uma marrom tristeza. Na verdade, talvez a mulher madura não se saiba assim inteira ante seu olho interior. Talvez a sua aura se inscreva melhor no olho exterior, que a maturidade é também algo que o outro nos confere, complementarmente. Maturidade é essa coisa dupla: um jogo de espelhos revelador. Cada idade tem seu esplendor. É um equívoco pensá-lo apenas como um relâmpago de juventude, um brilho de raquetes e pernas sobre as praias do tempo. Cada idade tem seu brilho e é preciso que cada um descubra o fulgor do próprio corpo. A mulher madura está pronta para algo definitivo. Merece, por exemplo, sentar-se naquela praça de Siena à tarde acompanhando com o complacente olhar o vôo das andorinhas e as crianças a brincar. A mulher madura tem esse ar de que, enfim, está pronta para ir à Grécia. Descolou-se da superfície das coisas. Merece profundidades. Por isto, pode-se dizer que a mulher madura não ostenta jóias. As jóias brotaram de seu tronco, incorporaram-se naturalmente ao seu rosto, como se fossem prendas do tempo. A mulher madura é um ser luminoso é repousante às quatro horas da tarde, quando as sereias se banham e saem discretamente perfumadas com seus filhos pelos parques do dia. Pena que seu marido não note, perdido que está nos escritórios e mesquinhas ações nos múltiplos mercados dos gestos. Ele não sabe, mas deveria voltar para casa tão maduro quanto Yves Montand e Paul Newman, quando nos seus filmes. Sobretudo, o primeiro namorado ou o primeiro marido não sabem o que perderam em não esperá-la madurar. Ali está uma mulher madura, mais que nunca pronta para quem a souber amar.
Por Affonso Romano de Sant'AnnaDoenças Muitas doenças que as pessoas têm são poemas presos abscessos tumores nódulos pedras são palavras calcificadas poemas sem vazão mesmo cravos pretos espinhas cabelo encravado prisão de ventre poderia um dia ter sido poema pessoas às vezes adoecem de gostar de palavra presa palavra boa é palavra líquida escorrendo em estado de lágrima lágrima é dor derretida dor endurecida é tumor lágrima é alegria derretida alegria endurecida é tumor lágrima é raiva derretida raiva endurecida é tumor lágrima é pessoa derretida pessoa endurecida é tumor tempo endurecido é tumor tempo derretido é poema palavra suor é melhor do que palavra cravo que é melhor do que palavra catarro que é melhor do que palavra bílis que é melhor do que palavra ferida que é melhor do que palavra nódulo que nem chega perto da palavra tumores internos palavra lágrima é melhor palavra é melhor é melhor poema
Por Viviane MoséO século 21 impõe maior velocidade de adaptação e uma educação pautada por novas diretrizes, entre elas a tecnologia.
Por Celso NiskierGênesis, GN, 7:23, Assim, foram exterminados todos os seres que havia sobre a face da terra: as pessoas e os animais, os seres que rastejam e as aves dos céus foram extintos da terra; ficou somente Noé e os que com ele estavam na arca.
Por Gênesis, Antigo TestamentoTer uma mente bonita, uma alma bonita e uma boa vibe, todas essas coisas são mais importantes do que um rosto bonito ou um corpo bonito.
Por Camila CabelloOutrora eu havia querido abandonar o mundo, mas hoje estou praticamente seguro de que devia permanecer nele, fazer ato de presença. Trata-se mesmo do sentido de minha vida.
Por Julien GreenJó, JÓ, 17:4, Fechaste o coração deles para o entendimento, e por isso não os exaltarás.
Por Jó, Antigo TestamentoEfésios, EF, 2:22, Nele também vocês estão sendo edificados, junto com os outros, para serem morada de Deus no Espírito.
Por Efésios, Novo Testamento