Frases e palavras de impacto de Jorge de Lima!

⁠POEMA DO NADADOR A água é falsa, a água é boa. Nada, nadador! A água é mansa, a água é doida, aqui é fria, ali é morna, a água é fêmea. Nada, nadador! A água sobe, a água desce, a água é mansa, a água é doida. Nada, nadador! A água te lambe, a água te abraça a água te leva, a água te mata. Nada, nadador! Senão, que restará de ti, nadador? Nada, nadador.

Por Jorge de Lima

O primeiro dos quatorze Há muita gente eu sei que não gosta de versos, Por que... não sei... talvez... [talvez] porque não queira; Daí uma asserção de críticos diversos: Morrerá no Porvir a poesia inteira. Eu me esteio a mim mesmo em pontos controversos: A Ciência julgada austera e sobranceira Pousa no fictício os pedestais emersos Que sustêm uma bíblia eterna e verdadeira. Vede: a Química conta as moléculas; dita A Mecânica as leis tendo por base a inércia; Outros mundos além a Astronomia habita... Se mesmo o positivo é sonho e controvérsia Nem Porvir, nem ninguém, coisa alguma desliga A Ciência que sonha e o verso que investiga.

Por Jorge de Lima

ESSA NEGRA FULÔ Ora, se deu que chegou (isso já faz muito tempo) no banguê dum meu avô uma negra bonitinha chamada negra Fulô. Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! (Era a fala da Sinhá) — Vai forrar a minha cama, pentear os meus cabelos, vem ajudar a tirar a minha roupa, Fulô! Essa negra Fulô! Essa negrinha Fulô ficou logo pra mucama, para vigiar a Sinhá pra engomar pro Sinhô! Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! (Era a fala da Sinhá) vem me ajudar, ó Fulô, vem abanar o meu corpo que eu estou suada, Fulô! vem coçar minha coceira, vem me catar cafuné, vem balançar minha rede, vem me contar uma história, que eu estou com sono, Fulô! Essa negra Fulô! “Era um dia uma princesa que vivia num castelo que possuía um vestido com os peixinhos do mar. Entrou na perna dum pato saiu na perna dum pinto o Rei-Sinhô me mandou que vos contasse mais cinco.” Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô? Ó Fulô? Vai botar para dormir esses meninos, Fulô! “Minha mãe me penteou minha madrasta me enterrou pelos figos da figueira que o Sabiá beliscou.” Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Fulô? Ó Fulô? (Era a fala da Sinhá chamando a Negra Fulô.) Cadê meu frasco de cheiro que teu Sinhô me mandou? — Ah! foi você que roubou! Ah! foi você que roubou! O Sinhô foi ver a negra levar couro do feitor. A negra tirou a roupa. O Sinhô disse: Fulô! (A vista se escureceu que nem a negra Fulô.) Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô? Ó Fulô? Cadê meu lenço de rendas cadê meu cinto, meu broche, cadê meu terço de ouro que teu Sinhô me mandou? Ah! foi você que roubou. Ah! foi você que roubou. Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! O Sinhô foi açoitar sozinho a negra Fulô. A negra tirou a saia e tirou o cabeção, de dentro dele pulou nuinha a negra Fulô Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô? Ó Fulô? Cadê, cadê teu Sinhô que nosso Senhor me mandou? Ah! foi você que roubou, foi você, negra Fulô? Essa negra Fulô!

Por Jorge de Lima

Entre a raiz e a flor: o tempo e o espaço.

Por Jorge de Lima

Banhistas Este poema de amor não é lamento nem tristeza distante, nem saudade, nem queixume traído nem o lento perpassar da paixão ou pranto que há de transformar-se em dorido pensamento, em tortura querida ou em piedade ou simplesmente em mito, doce invento, e exaltada visão da adversidade. É a memória ondulante da mais pura e doce face (intérmina e tranquila) da eterna bem-amada que eu procuro; mas tão real, tão presente criatura que é preciso não vê-la nem possuí-la mas procurá-la nesse vale obscuro.

Por Jorge de Lima