O livro-arbítrio Morreu. Batem à porta. — É o destino. Seja, Ou o nome que os fados Tenham. É inadiável, Intransferível.
A frase mais vista deste Autor.
És bela, eu velho; Tens amor, eu tédio. Que adianta seres Bela, se a beleza É coisa externa que Não está no coração? E minha velhice Não te interessa Já que, na vida, Seguimos destinos Opostos. Tens amor, bem sei É próprio da idade, Que amor é Tão somente impulso Da natureza cega, Para perpetuar A miséria amarga De nosso próprio Infortúnio. És bela, fui moço, Tens amor, eu... medo.
Confesso que estou cansado. Sobretudo, de mim mesmo. Se o telefone tocar digam Que não estou. Quero ficar Sozinho. Nem quero saber O que se passa no mundo. Até a fé na vida perdi. Não me suporto mais. Este conflito já dura Demais entre eu e Mim mesmo. Vejo Que vivi uma vida de sonho Num mundo de cães. E se me observo melhor, Percebo que estou latindo.
Disse-te que nasci um só E que morri vários? Ou nada te disse sobre O desdobrar-se de mim, Nesta teia de seres Que cada dia cresce, Sufocando o ser Original que fui? Que seres são esses Que se agregaram a mim, Imitando meus gestos E minha voz, qual Herdeiro de esquecidas Memórias? Disse-te Que hoje sou tantos Que nem mais reconheço Minha face envelhecida Meu signo particular? Quem sabe, nada te disse. Não sei falar sobre o que Desconheço. Mas posso sentir Que alguns de mim Estão morrendo. Outros Tantos de mim se Despregam dos contraditórios Labirintos de mim mesmo.
Não sei onde começo, Nem onde acabo. E outra Dúvida se acrescenta: Quando eu morrer Qual dos meus eus estará Sendo enterrado comigo? E os outros, os que não me Seguirem, continuarão Vagando por ai, continuando A expor o meu tormento? Se eu te disse que nasci Um só e que morri Vários, foi porque o dom Da vida se dispersou Em mim, fazendo de um Só poeta possível, um Deserto permeado. Só os Veros poetas nascem vários E morrem um só, Eupalinos!
Minha casa volante De vazio e sonho. O trapézio em que Me equilibro desde O dia em que nasci. A jaula das feras Com que convivo. Os palhaços que Nos reproduzem. Os domadores que A nem todos domam. As amazonas que Não sabem amar. O público que não Nos vê e não aplaude. Circo: círculo Concêntrico desta Roda viva De purgação E espera. Mas se o circo parte Fico ainda mais só.