Frases e palavras de impacto de Ana Guadalupe!

quanto mais feia for a sua letra de mão mais comoção devo sentir em especial com as menores e mais redondas deitadas como pedestre atropelado e deixado nas linhas conhecidas como ‘letra do atrasado na escola’ ou ‘caligrafia de quem já nasceu com as teclas’ alguém que talvez precise usar régua pra alinhar as coisas que talvez precise de ajuda e recuperação que talvez precise de mim talvez precise de mim

Por Ana Guadalupe

morri pouca gente apareceu caixão aberto, batom seco três amigos fizeram homenagem enquanto despedaçava a terra segui alguns andando pela rua minutos depois do enterro ouvi quando disseram que nunca me conheceram a fundo

Por Ana Guadalupe

vamos perder o contato? visto que não há motivo para mantê-lo por meio de encontros e recados se a cada dia acordamos outro e não vamos manter nem em sonho nosso outro de ontem outrora foi mais fácil cortar os laços todos vamos retomar e perder o contato só no arquivo permanente do passado o outro ficará pra sempre lacrado prêmio que apenas antecipamos cromo raríssimo pacote intacto

Por Ana Guadalupe

numa casa com aluguel atrasado falamos da chuva de granizo numa casa movediça o despertador toca mais cedo de uma casa com incêndio você talvez não saia a tempo numa casa no deslizamento morremos pensando que pena numa casa pequena não cabem os panos de prato sem uma casa arejada você cheira a cachorro molhado numa casa sem amor todos arrumam outros planos numa casa às pressas tem coisas que você deixa numa casa por ano é melhor nem abrir essas caixas

Por Ana Guadalupe

Escrevo versinhos ando em círculos penso em tiros no ouvido num silêncio mais calmo em balas de goma e cereais matinais e mãos no pescoço e esquecer o passado não por arrependimento mas por exagero por tédio por sódio.

Por Ana Guadalupe

com um poema simplório o poeta disfarça pretensão só escreve em caso de tédio e se rima ruim é por opção com um poema médio o poeta pode ser qualquer outro pisca os olhos pretos de novo e a lua prata bate no prédio com um poema pomposo o poeta se leva muito a sério é lido no hall por um amante maldoso que imita a voz do pica-pau

Por Ana Guadalupe

quantas frutas serão por mim analisadas com atenção em busca de lagartas até o fim da vida lembrando aí que esqueci de levar os óculos pro mercado deve ser por isso também a tontura cada volta na prateleira é um zumbido novo nas orelhas a vontade mista de ficar e ir embora aprendi recentemente a comprar ovos, brócolis, farinha ainda não aprendi a levar companhias: ir ao mercado sem ninguém é mais rápido não é preciso esperar outra pessoa hipnotizada olhando temperos ou chinelos enquanto pães de centeio são por mim esmagados enquanto finalmente encontro a lagarta que vive na banana e jogo longe o cacho

Por Ana Guadalupe

quando cortam a internet coisas absurdas acontecem mas não sem a tentativa de refresh e do refresco de cogitar antes um lapso passageiro raios insetos no aparelho quando a página some levando embora um link que se perderá pra sempre, é aí que uma coceira aparece então descobre-se que o eu lírico carregava meses de urticária ou brotoejas ou micose da pior espécie quando ninguém mais digita palavra nenhuma, nosso herói ou heroína se levanta com tontura pra ir à esquina descobre árvores inesperadas na sacada, quatro ou cinco parentes desacordados na escada de casa

Por Ana Guadalupe