Frases e palavras de impacto de Alphonsus de Guimaraens!

É necessário amar… Quem não ama na vida? Amar o sol e a lua errante! amar estrelas, Ou amar alguém que possa em sua alma contê-las, Cintilantes de luz, numa seara florida! Amar os astros ou na terra as flores… Vê-las Desabrochando numa ilusão renascida… Como um branco jardim, dar-lhes na alma guarida, E todo, todo o nosso amor para aquecê-las… Ou amar os poentes de ouro, ou o luar que morre breve, Ou tudo quanto é som, ou tudo quanto é aroma… As mortalhas do céu, os sudários de neve! Amar a aurora, amar os flóreos rosicleres, E tudo quanto é belo e o sentido nos doma! Mas, antes disso, amar as crianças e as mulheres…

Por Alphonsus de Guimaraens

Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar... E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar... Estava perto do céu, Estava longe do mar... E como um anjo pendeu As asas para voar... Queria a lua do céu, Queria a lua do mar... As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar...

Por Alphonsus de Guimaraens

Hão de chorar por ela os cinamomos Hão de chorar por ela os cinamomos, Murchando as flores ao tombar do dia. Dos laranjais hão de cair os pomos, Lembrando-se daquela que os colhia. As estrelas dirão — "Ai! nada somos, Pois ela se morreu silente e fria.. . " E pondo os olhos nela como pomos, Hão de chorar a irmã que lhes sorria. A lua, que lhe foi mãe carinhosa, Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la Entre lírios e pétalas de rosa. Os meus sonhos de amor serão defuntos... E os arcanjos dirão no azul ao vê-la, Pensando em mim: — "Por que não vieram juntos?"

Por Alphonsus de Guimaraens

Cantem outros a clara cor virente Do bosque em flor e a luz do dia eterno… Envoltos nos clarões fulvos do oriente, Cantem a primavera: eu canto o inverno. Para muitos o imoto céu clemente É um manto de carinho suave e terno: Cantam a vida, e nenhum deles sente Que decantando vai o próprio inferno. Cantam esta mansão, onde entre prantos Cada um espera o sepulcral punhado De úmido pó que há de abafar-lhe os cantos… Cada um de nós é a bússola sem norte. Sempre o presente pior do que o passado. Cantem outros a vida: eu canto a morte.

Por Alphonsus de Guimaraens

Entre brumas, ao longe, surge a aurora. O hialino orvalho aos poucos se evapora, Agoniza o arrebol. A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece, na paz do céu risonho, Toda branca de sol. E o sino canta em lúgubres responsos: “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!” O astro glorioso segue a eterna estrada. Uma áurea seta lhe cintila em cada Refulgente raio de luz. A catedral ebúrnea do meu sonho, Onde os meus olhos tão cansados ponho, Recebe a bênção de Jesus. E o sino clama em lúgubres responsos: “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!” Por entre lírios e lilases desce A tarde esquiva: amargurada prece Põe-se a lua a rezar. A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece, na paz do céu tristonho, Toda branca de luar. E o sino chora em lúgubres responsos: “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!” O céu é todo trevas: o vento uiva. Do relâmpago a cabeleira ruiva Vem açoitar o rosto meu. E a catedral ebúrnea do meu sonho Afunda-se no caos do céu medonho Como um astro que já morreu. E o sino geme em lúgubres responsos: “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

Por Alphonsus de Guimaraens

O amor, a cada filho, se renova. Mesmo no inverno, brilha a primavera… E o coração dos pais, sedento, prova O néctar suave de quem tudo espera. Vai-se a lua, e vem outra lua nova… Ai! os filhos… (e quem os não quisera?) São frutos que criamos para a cova. Melhor fora que Deus no-los não dera. Frutos de beijos e de abraços, frutos Dos instantes fugazes, voluptuosos, Rosário interminável de noivados… Filhos… São flores para velhos lutos. Por que Jesus nos fez tão venturosos, Para sermos depois tão desgraçados?

Por Alphonsus de Guimaraens

Como se moço e não bem velho eu fosse Uma nova ilusão veio animar-me. Na minh’alma floriu um novo carme, O meu ser para o céu alcandorou-se. Ouvi gritos em mim como um alarme. E o meu olhar, outrora suave e doce, Nas ânsias de escalar o azul, tornou-se Todo em raios que vinham desolar-me. Vi-me no cimo eterno da montanha, Tentando unir ao peito a luz dos círios Que brilhavam na paz da noite estranha. Acordei do áureo sonho em sobressalto: Do céu tombei aos caos dos meus martírios, Sem saber para que subi tão alto…

Por Alphonsus de Guimaraens