Frases e palavras de impacto de Ítalo Diblasi!

Havia crescido e era definitivo: já tão banal o forte gosto da aguardente de velhos tempos coisa alguma nem o corpo também a pele manifesta seu devir extingue-se, camaleoa de máscara em máscara o bruto corpo da árvore castigada ao cair das folhas. Cresci perdi castelos e pudores perdi sorrisos, sim perdi favores deixei aos sóbrios a vitória sobre o tempo ganhei silêncios & temores ganhei revolta quando mais queria calma ganhei suor e não o pão ganhei o Ar a plenitude do hemisfério a anarquia nos trópicos ganhei perdi ganhei & perdi uma metralhadora de espantos em eterno ir e vir

Por Ítalo Diblasi

Hoje é o aniversário da execução de García Lorca e se alguma coisa mudou desde então, foi pra pior eu estou na Central do Brasil esperando que alguém me ligue com uma notícia boa não tenho vontade de voltar para casa não tenho vontade de ir trabalhar não tenho vontade de quase nada e espero me apaixonar nos próximos minutos há qualquer coisa de perverso em tudo isso penso em Antônio Conselheiro e em seu cadáver profanado a santidade do mundo é sempre mais perigosa que qualquer diabo uma vez o eremita me sorriu em uma carta de tarô e desde então tenho colecionado abandonos ocorre-me que talvez estejamos vivendo o apocalipse

Por Ítalo Diblasi

Sonhei com uma cidade submersa que desconhecia luz e era habitada por estranhas criaturas fluorescentes que sentiam fome e amor, mas sobretudo fome, e adornavam as almas com cantos de guerra e silêncios rompidos à chibata mas havia alma e isso bastava porque na superfície nós não tínhamos nem isso, e o sonho desdobrava-se num turbilhão de imagens em que eu via o amor ser inventado e escurecer e as trevas eram tudo e eu dormia e desesperadamente sabia que ninguém viria coroar minha agonia porque acordávamos todos os dias e quem quer que quisesse viver teria de saber que aqui não se sonha, não, não se sonha sem custo e o meu custo, tão doce e terrível, era a loucura daquela cidade que já desaparecia outra vez e a insuportável luz volvia com a realidade e tudo o que se podia fazer era secar os olhos e observar o sol dormir atrás do mundo

Por Ítalo Diblasi

Poema azul eu reconheço a distância calada de um coração essa distância-oceano que é a distância dos anos, dos autos, dos atos de fé do labirinto tecido à fina seda do sonho que sonda o poente eu reconheço a distância forçada do exílio do suicídio coroado nas laudas do tempo, do vento, do corpo que amei eu atravessei o grito dos seus olhos quando até a palavra tempo cessou e o relâmpago profetizou, na escuridão, o retorno e você diz que eu fiquei mais azul

Por Ítalo Diblasi

Eros manda avisar que não habita parlamento Que o amor não é uma social-democracia Que onde dois são dois a discórdia faz ninho Que o livre-arbítrio é a desculpa da apatia Que o tirano e o escravo são gêmeos siameses

Por Ítalo Diblasi

Melancolinear Tenho os dentes amarelados e sempre que posso mantenho-os todos na boca fechada sorrindo sem eles estilo contido e me envaideço de minha proeza porque não sorrir nunca matou ninguém

Por Ítalo Diblasi

você não acreditaria que eu sigo mentindo e que agora as mentiras são quase bonitas apenas porque morremos: a beleza. apenas porque morremos o sol voltará amanhã exigindo que ao menos um de nós tente de novo você não acreditaria nas coisas que tenho tentado provar – a libido, o corpo, o frio (sobretudo o frio) você não acreditaria que apenas porque morremos as coisas ainda brilham que apenas porque morremos ainda somos necessários

Por Ítalo Diblasi